Foto: Reprodução/SVMÂ
G1
Ocorreram 222 ações criminosas em 47 cidades cearenses desde o dia 2 de janeiro. Secretaria da Segurança confirmou que 400 pessoas foram detidas por participação nos crimes.
          Criminosos incendiaram uma escola pública em Itarema, no Litoral Oeste do Ceará e um caminhão de lixo na cidade de Jaguaruana, no Vale do Jaguaribe. As duas ações ocorreram na madrugada desta segunda-feira (21). Na noite de domingo (20), um ônibus foi queimado no Bairro Mondubim, em Fortaleza. Não há registro de pessoas feridas nesses ataques. A violência no estado chegou ao 20º dia seguido.
           Desde o dia 2 de janeiro, quando começaram as ações criminosas, ocorreram 222 ataques contra ônibus, carros, prédios públicos, prefeituras e comércios em 47 dos 184 municÃpios cearenses. As ações começaram em Fortaleza, foram para a Região Metropolitana e se espalharam por diversas cidades do interior do estado. A Secretaria da Segurança Pública do Ceará confirmou que 400 pessoas já foram detidas por envolvimento nas ações criminosas.
Para tentar conter os ataques, o governo estadual convocou 1.200 policiais militares da reserva para reforçar a segurança nas ruas. O Ministério da Justiça enviou agentes da Força Nacional e reforço da PolÃcia Rodoviária Federal para o estado. Policiais militares e agentes penitenciários de outros estados brasileiros também foram deslocados ao Ceará após o inÃcio dos crimes.
O fogo destruiu livros, eletrodomésticos, cadeiras e mesas — Foto: Reprodução/SVM
        A escola municipal Geralda Bonifácio Rodrigues, na localidade de Saquim, em Itarema, teve vários espaços danificados pelos criminosos, segundo a prefeitura da cidade. O fogo destruiu livros, eletrodomésticos, cadeiras e mesas. Equipes da PolÃcia Militar realizaram buscas na região com objetivo de prender os suspeitos. Até a manhã desta segunda, ninguém havia sido preso.
        Em jaguaruana, o caminhão de lixo foi queimado por volta de 1h deste domingo, no Bairro Juazeiro. Segundo a PolÃcia Militar, o veÃculo estava estacionado em frente a uma oficina, quando criminosos jogaram combustÃvel e atearam fogo. O veÃculo ficou completamente destruÃdo.
        Já no domingo, um ônibus do transporte coletivo foi atacado por bandidos no Bairro Mondubim, na capital. Eles incendiaram parte do ônibus, mas o Corpo de Bombeiros conseguiu impedir que o fogo se alastrasse por todo o veÃculo.
Durante a tarde de domingo, dois homens armados, em duas motos, tentaram atear fogo em uma van do transporte alternativo no Bairro Jangurussu, em Fortaleza. O veÃculo teve algumas peças danificadas, mas o fogo não atingiu toda a van.
Entenda o que está acontecendo no Ceará
- O governo criou a secretaria de Administração Penitenciária e iniciou uma série de ações para combater o crime dentro dos presÃdios. O novo secretário, Mauro Albuquerque, coordenou a apreensão de celulares, drogas e armas em celas. Também disse que não reconhecia facções e que o estado iria parar de dividir presos conforme a filiação a grupos criminosos.
- Criminosos começaram a atacar ônibus e prédios públicos e privados. As ações começaram na Região Metropolitana e se espalharam pelo interior.
- O governo pediu apoio da Força Nacional. O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, autorizou o envio de tropas; 406 agentes da Força Nacional reforçam a segurança no estado.
- A população de Fortaleza e da Região Metropolitana sofre com interrupções no transporte público, com a falta de coleta de lixo e com o fechamento do comércio.
- A onda de violência afastou turistas e fez a ocupação hoteleira no estado cair.
- 35 membros de facções criminosas foram transferidos do Ceará para presÃdios federais desde o inÃcio dos ataques, segundo o último balanço do Ministério da Justiça.
Ceará registra série de ataques criminosos — Foto: Infográfico: karina Almeida/G1
Ordens partiram de presÃdios
 Ãudios compartilhados entre membros de facções do Ceará revelaram que as ordens para as ações criminosas partiram de presidiários. As mensagens chegaram até as autoridades após a apreensão de 407 aparelhos de celulares nas unidades prisionais do estado, no dia 6 de janeiro.
Em uma mensagem, um detento ordena: “Uns toca fogo na prefeitura, uns toca fogo nas coisa lá dos policial, tá ligado?”. O Palácio Municipal da Prefeitura de Maracanaú, na Grande Fortaleza, foi um dos 49 prédios públicos atacados no Ceará. “Agora a bagunça vai começar é com força”, diz outra mensagem de áudio. “Agora nós vamos parar os ônibus, vamos tocar fogo com vocês dentroâ€, ameaça um terceiro detento.
Ãudios de presidiários revelam ordens para ataques no Ceará
Em outro áudio, um detento diz que a sequência de crimes é uma tentativa de fazer com que o secretário da Administração Penitenciária desista de medidas que tornaram mais rigorosa a fiscalização no sistema penitenciário. “Vocês vão tirar esse secretário aà dos presÃdios. Vocês vão ver, vai piorar é pra vocês”, ameaça um criminoso.
O secretário da Segurança Pública do Ceará, André Costa, confirmou que a nomeação do novo secretário de Administração Penitenciária provocou a onda de ataques criminosos. Segundo André Costa, “a criminalidade já conhecia o trabalho” do novo gestor da pasta que administra os presÃdios do Ceará.
‘Terrorismo’
Em entrevista à  GloboNews, o governador do Ceará, Camilo Santana (PT), classificou as ações criminosas registradas coomo “atos de terrorismo”. Santana defendeu que o Congresso Nacional revisse a lei antiterrorismo para tipificar ataques como os que ocorrem no Ceará.
Camilo Santana também confirmou o fechamento de 67 cadeias municipais no interior do Ceará nos últimos dias. A medida foi uma decisão do novo secretário da Administração Penitenciária, LuÃs Mauro Albuquerque, segundo o governador.
“Eram cadeias precárias, concentrei na Região Metropolitana para ter mais controle sobre esses presos. Isso foi uma decisão do próprio secretário [da Administração Penitenciária, Mauro Albuquerque]. Tenho tido todo o apoio do poder Judiciário”, afirmou.