31 de março. Em outras épocas o Brasil estaria comemorando o aniversário da Revolução de 1964, antes redentora, hoje denominada golpe. A data foi recentemente banida do calendário nacional de eventos. Mas o paÃs chega a ela, nesse ano, mergulhado em dúvidas. O dragão da inflação bate à porta da economia combalida. O governo edita medidas impopulares na tentativa de ajuste, mas é visto como gastador ao manter uma administração com 39 ministérios, a maioria deles criados para acomodar politicamente os vorazes aliados. Os trabalhadores e até o Partido dos Trabalhadores, ao qual é filiada a presidente, protestam contra o arrocho e pedem o cumprimento das promessas de campanha. O povo já fez uma grande manifestação pró impeachment no dia 15 de março e tem outra chamada para 12 de abril. Setores mais radicalizados pedem a volta dos militares ao poder. Com as diferenças de época e contexto, vivemos um clima bastante parecido com aquele 31 de março de 1964.
           O ex-presidente Lula reúne dirigentes estaduais do seu partido e promove um ato pela democracia. O ministro da Fazenda, titular do arrocho que impopulariza o governo, tenta convencer o Senado Federal a manter altos os juros das dÃvidas municipais. Os prefeitos protestam e prevêem caos. Ainda estão pendentes de votação no Congresso as Medidas Provisórias que dificultam o seguro-desemprego e reduzem a pensão das viúvas de trabalhadores. E o paÃs assiste o desenrolar da Operação Lava-Jato, que apura o maior escândalo de corrupção do mundo, ao mesmo tempo em que recebe notÃcias de problemas também monumentais no BNDES e na Receita Federal. Mais de 8 mil brasileiros são flagrados com dinheiro – supostamente ilegal – depositados na SuÃça.
           Queiram ou não, vivemos dias apreensivos. O contexto internacional é diferente daquele vivido 50 anos atrás. Não se fala em quebra institucional, pois não temos o explosivo ingrediente da guerra fria entre direita e esquerda, que tantas instabilidades causou ao mundo do pós-guerra (2ª Guerra Mundial). Mas não devemos nos esquecer de que há o caricato bolivarianismo vigente na Venezuela, BolÃvia e Equador, com muitos adeptos (e colaboradores) incrustados no governo brasileiro. O 31 de março não tem, hoje, motivos objetivos a se comemorar. Mas pode ser uma data de reflexão, para não repetirmos os erros do passado, tanto para a direita quanto os para a esquerda…
Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)Â