quinta-feira, 28/03/2024
Banner animado
InícioSocialCIDADANIAGravidez na adolescência: a jornada para uma nova vida

Gravidez na adolescência: a jornada para uma nova vida

Banner animado
         TJMT
04 - entrevista (1)         Um sorriso tímido, mas ao mesmo tempo esperançoso, que traz a incerteza de Cleize Bezerra da Silva, que aos 18 anos carrega em seus braços a filha Lavínia Vitória, de um mês de idade. Para escrever essa matéria, que integra a série sobre gravidez na adolescência, eu, jornalista Dani Cunha, estava ali, do outro lado (quase 19 anos depois), vendo aquela situação, agora de outro ângulo, de uma jovem que, da mesma forma que eu há alguns anos, começa uma jornada que não permite vislumbrar o que vem pela frente.
 
Pude ver a história de uma dimensão muito maior sobre o que significa estar grávida na adolescência. E mais: pude me colocar no lugar da mãe dela, já que tenho uma filha da mesma idade e, principalmente, no lugar da minha mãe. Reviver essas lembranças foi terno, mas ao mesmo tempo difícil, tamanha a responsabilidade que é ter um filho.
 
Essa foi a segunda gestação de Cleize. Aos 16 anos, ela perdeu a primeira gravidez, de outro relacionamento. Mesmo morando com o companheiro há quase um ano e meio, a jovem, de baixa renda, conta que foi um choque descobrir que estava grávida. À época, ela cursava o primeiro ano do ensino médio e com o passar dos meses, os estudos começaram a ficar comprometidos.
 
“Quando descobri, estava com 12 semanas de gravidez e comecei a entrar em depressão, não saía mais do quarto, não comia. Foi muito complicado, mas depois passei a pensar mais na minha filha e em mim, e que não levaria a nada eu agir daquela forma. Eu sempre gostei muito de estudar, só que os enjoos ficaram mais fortes, comecei perder o foco, aí veio a sonolência e tudo ficou mais difícil para eu estudar. Me dava um desânimo, não queria mais andar, só queria ficar deitada. Isso me atrapalhou bastante, só que, mesmo assim, eu continuei, não desisti”, contou.
 
Filha de pais separados, Cleize integra o quadro estatístico dos índices da gravidez na adolescência, que está associada diretamente com baixa renda e escolaridade, além do ciclo de repetição, já que sua mãe também teve o primeiro, de quatro filhos, aos 18 anos. A jovem fez todo o pré-natal no Posto de Saúde da Família (PSF) do bairro Doutor Fábio, em Cuiabá.
 
O trajeto de casa até a unidade de saúde, a pé, dura cerca de 30 minutos. Hoje ela continua o acompanhamento com a filha, atravessando um grande trecho de rua completamente sem asfalto até chegar a seu destino. Esse é um dos agravantes para jovens carentes que muitas vezes deixam de realizar pré-natal por conta da dificuldade de acesso ou distância da unidade de saúde.
 
Com essa idade, ela não tem noção clara da realidade, mas ainda assim, Cleize admite a dificuldade que é estar com um filho nos braços e abrir mão de coisas simples do dia a dia, como sair com as amigas. “Tive que deixar de sair porque a minha filha ocupa todo o tempo da minha vida. Não saio mais de casa, a não ser para ir à igreja. Passear, eu passeio com ela, mas a gente abre mão de muita coisa por conta dela”, falou.
 
O misto de sentimentos, receios, dúvidas e inseguranças agora fazem parte da rotina da adolescente, que passou a assumir papel e responsabilidade de adulto antes da hora. “Ter uma criança pesa em várias coisas, principalmente na parte financeira. É muita fralda, ter que comprar roupas quando não serve mais, o gasto é grande, ainda mais quando o bebê está doente”, afirma.
 
Dividindo o mesmo teto com os cunhados e os dois filhos deles, além do marido e da filha, Cleize diz que seu sonho é ter uma casa própria para poder morar com a família. Apesar de toda dificuldade, pretende concluir o segundo grau, sonha em ser advogada e fala que vai batalhar por isso. “As aulas retornam em março e como estudo à noite, vou levar minha filha comigo, não vou desistir porque o estudo é muito importante. Pretendo ser alguém na vida, quero cuidar dela para ela ter um futuro melhor”, complementou.
 
Mesmo feliz com a nova realidade, Cleize tem a consciência que ter uma gravidez precoce traz complicações. Ela resumiu o que é ter um filho precocemente e deu um conselho, especialmente às amigas. “Engravidar é fácil, cuidar de uma criança não é. Diria para minhas amigas esperarem porque agora é cedo demais. Eu não incentivaria elas terem filho porque é muito difícil, é muita responsabilidade”, disse a jovem, com o mesmo sorriso no rosto, com a filha nos braços e com toda uma história pela frente.
Dani Cunha
Coordenadoria de Comunicação do TJMT
ARTIGOS RELACIONADOS

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui
Captcha verification failed!
Falha na pontuação do usuário captcha. Por favor, entre em contato conosco!
- Anúncio -
Banner animado

MAIS LIDAS

Comentários Recentes