A 1ª Vara de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher de Cuiabá desenvolve um trabalho muito especial por meio do Direito Sistêmico, uma ferramenta cientÃfica que busca promover a tomada de consciência das vÃtimas estimulando-as a compreender por que estão envolvidas em emaranhados emocionais e imersas em ciclos de violência.
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Na sexta-feira (23 de fevereiro), foi realizada a primeira oficina de 2018 com 25 mulheres que são partes de processos judiciais instaurados na vara. Algumas acompanhadas de seus filhos, outras sonolentas pela ansiedade de comparecer ao Judiciário que chega a tirar o sono, mulheres jovens até senhoras idosas se reuniram em um prol comum: livrar-se da violência e encontrar a paz.
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“Eu me emocionei bastante, precisava muito ouvir tudo que ouvi do juiz e da palestrante, estava precisando de um apoio moral para levantar minha cabeça, ter mais atitude e amor próprio, viver a vida e ser feliz. Agora me sinto mais leve, com mais sabedoria para resolver essa situação. Quero deixar para trás toda essa violência que eu viviâ€, relata M.G.R., 45 anos.
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Ela viveu um relacionamento de abusos, ofensas, violência verbal e fÃsica durante nove anos. Aparentando muita tristeza no olhar e passando a mão no coração – como que para aliviar a dor –, M. não denunciava o ex-marido por medo, insegurança de ficar sozinha e não conseguir tocar a vida sem o homem que amava. As situações de violência eram constantes, chegando ao ponto dele provocar um acidente de carro com ela grávida e até arremessar uma garrafa de vidro de refrigerante contra suas costas.
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“Nesses nove anos de convivência, eu acho que eu não tinha amor próprio, eu amava somente a ele. Eu achava que ele era o único homem do mundo, é assim que nós temos essa visão. Ele quebrava todas as minhas coisas, me xingava de nomes horrÃveis que doÃa dentro do meu coração. Mesmo assim eu aceitava ele de volta. Há dois meses ele saiu de casa levando todo o dinheiro de pagar as contas do mês, me abandonou com meu filho doente, me deixou sozinha. Nisso minha famÃlia me ajudou a tomar uma atitude por acharem que uma hora ele ia me matarâ€, descreve.
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O juiz titular da vara, Jamilson Haddad Campos, explicou toda a base cientÃfica do Direito Sistêmico à s participantes, desde a carga genética que alcança o cerne fÃsico, orgânico e emocional de cada pessoa, até a força dos padrões de comportamento reforçados pelo inconsciente.
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“Nossa finalidade maior é que as senhoras não mais vivenciem isso, não retornem mais aqui na Vara de Violência Doméstica ou até percam suas vidas. Não é em todo lugar que conseguimos ouvir questões de alta indagação da vida humana, então aproveitem essa oportunidade que o Tribunal de Justiça nos dá. Essas compreensões vão empoderá-las para que as senhoras não voltem mais aqui e internalizem esse ensinamento no inconscienteâ€, afirmou o magistrado na palestra.
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Experiência – O aluno do curso de Direito da Universidade de Cuiabá (Unic) Pedro Dorileo, 22 anos, assistiu à oficina de Direito Sistêmico como parte de seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) e também foi um dos representantes do exercÃcio sistêmico realizado, com o intuito de demonstrar parte do trabalho de constelação.
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“Essa foi uma oportunidade única porque é um novo sistema que as pessoas deveriam conhecer mais. Realmente toca a gente, traz uma visão diferente acerca da violência. Eu não acreditava e agora vi que a constelação pode ajudar as pessoas a evoluir psicologicamente, saber lidar com os problemas de uma melhor forma. Com a ajuda do mediador, a gente entra no personagem, sente a emoção que a vÃtima ou o agressor sentem, e com esse exercÃcio é possÃvel lidar melhor com a situação, avaliar como você poderia agir para superar esse problemaâ€, analisa o estudante.
Mylena Petrucelli
Coordenadoria de Comunicação do TJMT