Miguel de Oliveira procurou a Defensoria Pública para denunciar o caso — Foto: TVCA/ Reprodução
Foram gastos R$ 48 milhões e mais de 52 mil pessoas foram atendidas durante a Caravana da Transformação.
Por Ianara Garcia, TV Centro América
Os pacientes operados durante o mutirão da Caravana da Transformação, desenvolvido durante o governo Pedro Taques, perderam parte da visão e estão cobrando que a empresa responsável pelas cirurgias e os organizadores do mutirão realizem as devidas correções.
Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) disse que está levantando as ocorrências registradas durante a caravana. A secretaria informou ainda que houve casos de pacientes que não retornaram para os procedimentos necessários depois das cirurgias, mas que já estão entrando em contato com essas pessoas.
Já a empresa 20/20, responsável pelos procedimentos, disse que o setor jurÃdico tem acompanhado os processos e sindicâncias, no Conselho Regional de Medicina (CRM) e na Justiça.
A empresa explicou que os Ãndices de intercorrências registrados 0,05% estão abaixo dos 5% tolerados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e reforçou ainda que foram feitos os acompanhamentos devidos, como pós operatórios, recolocação de lentes e alta médica, e os custos foram assumidos pela empresa. Além disso, eles afirmam que nenhum paciente atendido foi abandonado.
A Caravana da Transformação tinha o objetivo de zerar as filas de cirurgias de catarata no estado. Foram investidos R$ 48 milhões e mais de 52 mil pessoas foram atendidas.
A campanha foi alvo de investigação do Ministério Público. Além de irregularidades nos procedimentos médicos, a Promotoria considerou que o controle do governo era ‘frágil’ nos atendimentos da empresa contratada.
A costureira Isaina Pinheiro Dias passou por duas cirurgias de catarata durante a caravana e ficou com sequelas.
“Em uma semana fizeram no olho direito e depois de um tempo foi olho esquerdo, que teve problemasâ€, contou.
Depois da cirurgia, a costureira passou por uma consulta no oftalmologista, que indicou ela para uma nova cirurgia, na sede da empresa 20/20, em São Paulo, além de um óculos de grau.
O procedimento foi realizado em fevereiro deste ano, mas o problema se agravou e ela ficou cega do olho esquerdo.
“Procurei um advogado e estou correndo atrás do problema. Eu perdi a visão e não posso deixar isso barato, não tem como deixar pra láâ€, ressaltou.
Outra paciente, a aposentada Eunice Pereira Assunção também passou pelo procedimento nos dois olhos por meio do programa do governo e ficou com sequelas no olho esquerdo.
Ela procurou a Defensoria Pública para denunciar o caso. “Se eu fechar o olho direito, só enxergo vultos. Estou com medo de perder a visão, pois já está bem comprometida. Não tem como esperar, por isso procurei a defensoriaâ€, disse.
Miguel de Oliveira também está cobrando providências. Durante a caravana, ele recebeu um comprovante que dizia que ele ganharia uma lente artificial durante a cirurgia, mas foi constatado que não havia nada.
O paciente, então, foi submetido a um novo procedimento. Ao todo, foram quatro cirurgias. Atualmente, Miguel tem apenas 2% da visão.
“Seis meses após a cirurgia, eu não consegui recuperar a visão do meu olho direito. Esperava que desse tudo certo, mas não tive essa sorteâ€, lamentou.
Outra paciente entrou com uma ação contra o governo, após perder a visão durante o procedimento e ganhou. A Justiça determinou que o governo realize outra cirurgia nela na tentativa de recuperar a visão. Além disso, a ação pede uma indenização por danos morais.Â
Alerta
Segundo a Associação Mato-grossense de Oftalmologia, esses transtornos poderiam ter sido evitados. A entidade alertou que esse modelo de mutirão de cirurgias de catarata, normalmente, não tem bons resultados.
“SabÃamos que isso já tinha acontecido em Mato Grosso do Sul e deu errado. Você fazer 20 cirurgias em um dia é uma situação, agora fazer de 600 a mil cirurgias num dia é uma outra situação. Isso aumenta o volume de cirurgias e aumenta também a possibilidade do risco de alguma complicaçãoâ€, ressaltou o médico Renato Bett.
Depois da caravana, segundo o médico, centenas de pacientes com complicações ainda procuram por atendimento.
“Os problemas mais recorrentes são inflamações, erros refracionais, ou seja, grau residual dos óculos que tenha ficado, alguns casos de infecção, casos de rotura de cápsula, que a gente chama de complicação cirúrgica, que necessitaria de um novo procedimento posterior ao primeiroâ€, explicou.
Do G1/MT