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Dulce Figueiredo
      No Brasil, a cada 5 minutos 2 mulheres são vÃtimas de espancamento (Pesquisa Fundação Perseu Abramo/SESC 2010); 70% das mulheres vÃtimas de agressão sofreram o crime na própria residência, sendo que em 65% das vÃtimas na faixa dos 20 aos 49 anos a agressão foi praticada pelo parceiro ou ex-parceiro.
      A violência é um comportamento sistêmico, está em nossa cultura e famÃlias há muitas gerações, mas, nem por isso devemos acolher como algo natural. Portanto, se você se envolve em relacionamentos abusivos com frequência busque ajuda e quebre esse padrão de comportamento familiar. Você pode fazer e viver diferente das mulheres e homens da sua famÃlia.
     A psicoterapia é o caminho para transformar crenças e valores familiares que estão gravados e influenciam suas emoções e comportamentos e que você nem se dá conta, pois são inconscientes. Muitas ferramentas podem auxiliar no diagnóstico e modificação desses padrões de comportamento abusivo e violento que impedem a convivência saudável e harmônica entre casais.
       Hoje, até a justiça conta com o auxÃlio de psicoterapeutas e terapeutas que fazem uso de uma nova técnica para trabalhar a violência doméstica no âmbito da famÃlia: a constelação familiar, que foi desenvolvida pelo psicanalista alemão Bert Hellinger. Ele é um estudioso a respeito das relações familiares e suas consequências na estruturação dos vÃnculos, comportamentos, escolhas e decisões na vida adulta.
      Essa metodologia terapêutica é usada por magistrados na solução de conflitos levados à Justiça na Vara de FamÃlia nos presÃdios femininos e masculinos e na ressocialização de homens presos por violência doméstica. No Brasil, pelo menos 16 estados, além do Distrito Federal, já utilizam o método para resolução de conflitos, atendendo a Resolução 125/2010 do Conselho Nacional de Justiça.
    A técnica começou a fazer parte da prática dos magistrados de Mato Grosso a partir de 2016, com expansão para oficinas de pais e filhos, direito sistêmico e um Núcleo de Justiça Restaurativa. No Paraná, um dos pioneiros na técnica, houve redução de mais de 90% nos casos de reincidência de agressões a mulheres, o que demonstra uma reconciliação entre os universos feminino e masculino.
     É importante que homens e mulheres passem a ver nuances do problema que enfrentam, de modo a identificar padrões de comportamento inconscientes que levam à agressão, bem como o histórico de violência doméstica observado na própria famÃlia. Desse modo, durante o uso da técnica da constelação familiar, um determinado agressor que está frente à sua própria história, passa a vivenciar a experiência de uma vÃtima, se solidarizando com ela e passando a perceber seu papel de algoz.
 O mais importante nesse tipo de experiência é que ela ajuda a apaziguar os ânimos, ou seja, acusações mútuas, abrindo espaço para a ponderação e a retomada dos relacionamentos. É comum nas sessões de constelação, muitas vezes, os participantes conseguirem identificar, em seu sistema familiar, o emaranhado (causa) que define o seu comportamento agressivo.
 Mas é importante destacar que esse deve ser um trabalho cuidadoso, minucioso, porque faz o indivÃduo entrar em contato com sentimentos e conteúdos da sua história familiar e pessoal que trazem mudanças profundas de postura nas pessoas. Nas mulheres, a ferramenta ajuda a sair da condição de vÃtima. Porque normalmente há uma escalada de violência que não é denunciada por ela, que conviveu com as mesmas situações na casa dos pais ou em sua própria casa.
 Casais envolvidos em violência doméstica geralmente viveram essa situação na famÃlia de origem e, desta forma, mantêm uma postura infantilizada, repetindo o padrão. Para quebrar esse ciclo nocivo, é preciso olhar e acolher a nossa própria história, e se permitir a fazer um pouco diferente.
 O amor que adoece também o mesmo amor que cura, a nós mesmos e à toda nossa famÃlia. Porém, para isso, há que se ter coragem de abrir espaço para o novo: um novo homem e uma nova mulher. Vamos pensar a respeito?
 Dulce Figueiredo, psicóloga com 24 anos de experiência e pedagoga pela UFRJ, especialização em terapia de famÃlia sistêmica, MBA Gestão de Recursos Humanos, @psicologadulcefigueiredo, dulcefig@gmail.com