DIREITOS
José Medeiros
Diretor de ONG destaca que desconhece qualquer evento desta natureza realizado em outra unidade penitenciária brasileira
Assessoria/Sejudh-MT
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           Mato Grosso realizou na quarta-feira (03.06) a primeira celebração de união estável entre recuperandos do sexo masculino dentro do Sistema Penitenciário do estado. O evento, organizado pela direção do Centro de Ressocialização de Cuiabá (CRC), uniu os casais Duda Marques e Emerson Marques e Rael da Silva e Mauro Lúcio Miranda.
Diretor da Organização não governamental (ONG) “Livremente†e membro da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Travestis e Transexuais (ABGLT), Clóvis Arantes, que atua há mais de 20 anos na defesa dos direitos destes grupos, acredita que não há precedentes para o fato. “Desconheço de qualquer evento desta natureza realizado em outra unidade penitenciária brasileiraâ€.
A falta de um dado nacional que comprove a historicidade do fato não tirou o brilho da festa, que contou com bolo, flores, coquetel, troca de alianças, padrinhos e convidados. “Hoje o estado de Mato Grosso começa a escrever uma nova página na história das garantias dos direitos e da dignidade humanaâ€, afirmou o secretário de Justiça e Direitos Humanos de Mato Grosso, Márcio Frederico de Oliveira Dorilêo.
De acordo com Dorilêo, nas unidades existem seres humanos comprometidos que acreditam no resgate da cidadania. Por isso, externou alegria em participar da cerimônia e “enxergar, especialmente nos olhos dos casais e dos recuperandos, a expectativa de reinclusão socialâ€.
A realização do casamento é fruto de trabalho realizado em parceria entre Governo do Estado e a ONG, por meio do Projeto Dignidade, implantado na ala do CRC denominada Arco-Ãris há quase quatro anos, e que já é um modelo para o sistema penitenciário do Brasil. Ele declara que a cerimônia de união estável é um passo fundamental para garantia dos direitos aos homossexuais.
Os recuperandos Duda Marques e Rael da Silva estão na ala Arco-Ãris, porém seus parceiros devem permanecer em outras alas da unidade. Os casais terão direito a visita Ãntima uma vez por semana. Emerson está recluso há cinco anos e sete meses e conheceu ‘a companheira’ (o recuperando Duda se identifica como de gênero feminino), há quase dois anos. Uma amiga da noiva Duda, alugou o vestido no centro da cidade. “Não é porque estamos aqui dentro que somos monstros, esse espaço é um centro de ressocialização e nós sairemos daqui ressocializados. E agora casadosâ€, afirma Duda Marques.
           Vestida de noiva com direito a coroa e véu, Duda era a mais nervosa dos quatro noivos e foi às lágrimas durante a cerimônia. Juntos há dois anos, Rael e Mauro Lúcio e se animaram com a ideia de oficializar a união, o casal foi vestido de branco para a celebração.
Agente penitenciária há 15 anos, Dayse Tavares acompanhou o relacionamento de Rael e Mauro Lúcio, por isso, foi escolhida para ser madrinha na cerimônia. Ela afirma que aceitou o convite e apoia o casal por acreditar que eles merecem a oportunidade de recomeçar.
A noiva Duda Marques fez questão de agradecer ao diretor da unidade Winkler Teles, a Associação de Servidores do CRC, que patrocinou os comes e bebes, a advogada Beatriz Dziobat, que realizou a cerimonia e cuidará dos trâmites legais da união, além dos colegas recuperandos que ajudaram para que a celebração fosse realizada.
O juiz da Vara de Execuções Penais Geraldo Fidelis também compareceu ao evento.