Alegam que as plataformas estão prejudicando a saúde mental e a aprendizagem dos estudantes; companhias podem pagar bilhões em multas
Por Bob Furuya, editado por Bruno Capozzi
Eu estudei numa época na qual os celulares ainda estavam engatinhando. Smartphone? Nem existia! Ter um computador em casa já era o máximo – imagina ter um na palma da sua mão.
E eu me lembro que a vida das minhas professoras já não era nada fácil. Era difícil prender a atenção de dezenas de crianças juntas. Pior ainda dos adolescentes. Era conversa pra um lado, fofoca pro outro, papelzinho picado voando e sempre tinha alguém dormindo em pé.Play Video
O desafio agora deve ser muito maior, uma vez que essas crianças têm em mãos a maior distração do mundo em forma de tecnologia.
Um novo tempo demanda novas ações – e diferentes das que estamos habituados. E uma delas me chamou a atenção no Canadá. Escolas em algumas das maiores cidades do país entraram com um processo contra as empresas de mídias sociais.
Alegam que as plataformas estão prejudicando a saúde mental e a aprendizagem dos estudantes. As ações foram apresentadas na última quarta-feira (27) em locais como Toronto, Ottawa e a região de Peel. Ao todo, os colégios pedem o pagamento de US$ 3,3 bilhões em danos.
Os processos contra a Meta, a ByteDance Ltd., proprietária do TikTok, e a Snap Inc., controladora do Snapchat, afirmam que essas empresas visaram deliberadamente as crianças com produtos projetados para criar um comportamento compulsivo – causando perturbações na sala de aula e tornando os jovens mais vulneráveis ??ao abuso e exploração sexual.
“O uso endêmico das redes sociais está causando uma crise de saúde mental juvenil sem precedentes”, afirmou o Conselho Escolar do Distrito de Toronto numa queixa apresentada no Tribunal Superior de Ontário.
Ainda segundo o texto, as companhias usaram a vulnerabilidade das crianças para ganhar dinheiro, sem se preocupar com o ensino de toda uma geração.
Também nos EUA
- Centenas de distritos escolares dos Estados Unidos fizeram alegações semelhantes.
- Os argumentos são muito parecidos – eles pedem que as empresas de redes sociais paguem o custo do vício nas suas plataformas.
- A cidade de Nova York, por exemplo, processou as mesmas companhias em fevereiro, juntamente com o Google.
- Um desses casos já avançou um pouco em um tribunal de Oakland, na Califórnia.
- Aqui no Brasil não há informação de ações parecidas.
- Algumas autoridades, no entanto, já adotam políticas para tentar diminuir os prejuízos.
- Em fevereiro deste ano, o governo do estado de São Paulo anunciou o bloqueio de aplicativos de redes sociais, como Instagram, Facebook e TikTok, pela internet Wi-Fi e cabeada em ambientes escolares.
- A medida também atinge plataformas de streaming e de jogos.
Prejuízo ao aprendizado
De acordo com os conselhos escolares canadenses, cerca de metade dos estudantes de Ontário não dormem o suficiente – e os principais culpados seriam os celulares e as redes sociais.
Os docentes também relataram um aumento na incidência de doenças psicológicas nos últimos anos – e desconfiam do papel das plataformas nessa mudança
Ao pedir o pagamento de uma indenização, os conselhos afirmam que estão gastando milhões de dólares na contratação de assistentes sociais, conselheiros juvenis e outros funcionários – para tentar ajudar as crianças.
O Conselho Escolar do Distrito de Ottawa também levantou um outro ponto importante. Disse, na ação, que é frequentemente alvo de discurso de ódio por contas anônimas nas redes sociais. De acordo com a entidade, as plataformas nem sequer são capazes de retirar ou barrar postagens com esse tipo de conteúdo.
As informações são da Bloomberg.
Imagem ilustrativa/reprodução internet