As nações com menos recursos são as mais propensas a recomendar tratamentos que não estão alinhados com as diretrizes padrão da OMS
Por Nayra Teles, editado por Lucas Soares
Durante a pandemia, a OMS (Organização Mundial da Saúde) definiu diretrizes de tratamento para Covid-19. Mas parece que, nesse período, nem todos os países seguiram as recomendações à risca. Uma análise publicada na revista BMJ Saúde Global comparou as normas de cada nação e descobriu grandes divergências.
O estudo baseou-se na 11ª versão, publicada em julho de 2022, das diretrizes da OMS e examinou o conteúdo de relatórios nacionais dos 194 estados membros.
Os países seguiram as normas da OMS?
Os países seguiram as normas da OMS?
- Segundo o relatório, a maioria dos países recomendou pelo menos um tratamento comprovadamente ineficaz contra a Covid-19.
- Os mais propensos a recomendar tratamentos divergentes do padrão da OMS eram as nações com menos recursos.
- Do total, 109 países tinham documentos formais de orientações. O restante não respondeu à pesquisa, não tinha diretrizes ou estas eram inacessíveis.
- Os países sem orientações tendiam a ter populações menores, PIB per capita mais baixo e menor Índice Global de Segurança Sanitária.
- A maioria das diretrizes revisadas (84%) não definiu a gravidade da COVID-19 de forma consistente com a OMS.
- A região africana teve uma proporção menor de terapias recomendadas pela OMS em comparação com a Europa e o Sudeste Asiático.
Recomendação de medicamentos
A análise mostra uma grande disparidade nas recomendações de tratamento para COVID-19 entre os países. Enquanto a maioria das diretrizes inclui pelo menos um tratamento recomendado pela OMS, há variações na escolha e na dosagem dos medicamentos.
- A maioria das diretrizes analisadas (105 de 109) incluiu pelo menos um tratamento recomendado pela OMS.
- Os corticosteroides foram amplamente recomendados (92%), mas em cerca de 1 em cada 10 diretrizes, não foram recomendados para casos graves, apesar da evidência de benefício.
- O remdesivir foi recomendado em metade das diretrizes (51%), principalmente para casos graves, embora a OMS o recomende para casos leves em pacientes de alto risco.
- 36% recomendavam pelo menos um anticorpo monoclonal. No entanto, dois deles não recomendados pela OMS apareceram na maioria dos documentos.
Alguns países continuaram a recomendar tratamentos desaconselhados pela OMS até o final de 2022, como a cloroquina, lopinavir, ritonavir, azitromicina, vitaminas e/ou zinco.
Por que as recomendações variam tanto entre países?
As recomendações variam entre países devido a uma série de fatores. Além das disparidades econômicas que limitam o acesso a certos tratamentos em países de baixa renda, as diferenças nas diretrizes também são resultados de uma variação na definição de gravidade da doença e nos avanços científicos de cada região.
Durante os estágios iniciais da pandemia, houve falta de clareza devido à intensa pressão política e midiática, levando países a adotar medidas com base em evidências científicas limitadas. Os pesquisadores enfatizam a necessidade de processos formalizados no desenvolvimento de diretrizes nacionais, baseados em evidências sólidas, para evitar esse cenário.