

Lula e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, se encontraram na Malásia. Foto: Ricardo Stuckert/PR
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O governo dos Estados Unidos anunciou nesta quarta-feira (20) a retirada da tarifa extra de 40% que incidia sobre produtos brasileiros desde agosto. A medida foi formalizada por meio de uma nova ordem executiva assinada pelo presidente Donald Trump e publicada no site da Casa Branca. A isenção vale de forma retroativa a partir de 13 de novembro e abrange produtos como carnes, café, frutas, especiarias e até itens religiosos e minerais.
Segundo o documento, a decisão decorre de um “progresso inicial” nas negociações entre os governos do Brasil e Estados Unidos. As conversas foram iniciadas em 6 de outubro, durante uma ligação entre Trump e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No final do mês, os dois presidentes se encontraram presencialmente na Malásia, durante a 47ª Cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), e conversaram por cerca de 50 minutos.
A ordem assinada pelo republicano afirma que algumas importações brasileiras não representam mais risco à segurança nacional dos EUA.
Entre os itens agora isentos da tarifa de 40% estão carnes bovinas frescas, congeladas e resfriadas, além de miúdos comestíveis como fígado e língua. Também foram beneficiados produtos típicos da exportação agrícola brasileira, como café verde e torrado, castanhas, açaí, manga, banana-da-terra, abacate e outras frutas tropicais. A lista inclui ainda especiarias como gengibre, pimenta, cúrcuma, noz-moscada, além de ervas e incensos de uso religioso, óleos essenciais, minérios, combustíveis e fertilizantes.
A medida assinada nesta quinta-feira delega ao secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, a responsabilidade de monitorar os efeitos da isenção e propor novas medidas, se necessário.
O texto também autoriza a alfândega dos EUA a reembolsar tarifas já pagas sobre os produtos isentos, desde que tenham entrado no país a partir de 13 de novembro.
Medida responde a pressão interna nos EUA
A mudança na política tarifária ocorre após semanas de críticas internas ao impacto da decisão anterior de Trump sobre os preços dos alimentos. Em julho, o presidente havia publicado a ordem executiva 14.323, impondo uma tarifa adicional de 40% sobre uma ampla gama de produtos brasileiros.
A justificativa, à época, foi de que ações do governo brasileiro representavam uma ameaça “incomum e extraordinária” à economia e à política externa estadunidense.
Desde então, os preços de itens básicos subiram nos Estados Unidos. Segundo levantamento do instituto Ipsos, 59% dos americanos responsabilizam Trump pela alta dos preços ao longo de 2025. Dados oficiais mostram que o preço do café em pó aumentou quase 20% no último ano; o da carne bovina, 14%; e o da banana, 7%.
A inflação acumulada gira em torno de 3% ao ano, acima da meta do banco central estadunidense, e o desemprego está em 4,3%. A elevação do custo de vida tem pressionado a popularidade de Trump e influenciado resultados eleitorais. Na semana passada, os democratas venceram eleições locais em diversos estados, impulsionados pelas críticas à política econômica da Casa Branca.
Política comercial em xeque
Além do impacto interno, as tarifas impostas por Trump em agosto afetaram o comércio internacional dos Estados Unidos. Dados divulgados nesta terça-feira (19) pelo Departamento de Comércio mostram que, só no mês de agosto, as importações de bens e serviços caíram 5,1%. A redução foi impulsionada pela diminuição nas compras de produtos agrícolas, equipamentos e insumos industriais.
Empresas americanas, que haviam estocado mercadorias antes da entrada em vigor das tarifas, passaram a repassar os custos ao consumidor à medida que os estoques se esgotavam. Analistas econômicos apontam que a oscilação nas regras tarifárias tem provocado instabilidade e aumentado a incerteza entre importadores.
Ainda não está claro se a Suprema Corte dos EUA permitirá a continuidade da política tarifária adotada por Trump. O tribunal analisa se o presidente excedeu seus poderes legais ao decretar as sobretaxas, decisão que pode anular parte das medidas nos próximos meses.
Editado por: Maria Teresa Cruz







