Luciene Oliveira | PJC-MTÂ
      Furto de defensivos agrÃcolas é uma atividade criminosa altamente lucrativa que desperta o interesse de quadrilhas especializadas. Elas agem nas principais regiões produtoras de Mato Grosso, principalmente norte, médio-norte e sul. Por ser um crime com pena “leveâ€, a partir de dois anos, organizações criminosas deixaram o risco do roubo a bancos – na modalidade “novo cangaço†– e ataques a caixas eletrônicos com uso de explosivos, que têm penas mais elevadas, para subtração de agrotóxicos vendidos sob encomenda.
      Os casos são investigados pela Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO), da PolÃcia Judiciária Civil, que por mês recebe de três a quatro ocorrências de furto e roubo, no perÃodo da safra de grãos. Segundo o GCCO, os registros crescem entre os meses de outubro e dezembro quando inicia o plantio da soja, principal grão cultivado no em Mato Grosso, e segue também com ocorrências durante o plantio do algodão e do milho, entre os meses de janeiro e março.
       Em 2015, as investigações da PolÃcia Civil conseguiram recuperar cerca de R$ 10 milhões em produtos subtraÃdos de fazendas agrÃcolas do estado e levaram à prisão 30 integrantes de quadrilhas que agem em roubos, furtos e receptação de defensivos agrÃcolas em Mato Grosso e também em Goiás. Em inquéritos policiais, 45 pessoas foram indiciadas.
        Delegado do GCCO, Diogo Santana Souza destaca que a migração das quadrilhas para o defensivo se dá devido à rentabilidade e a fragilidade dos locais armazenados. “Para cada furto as quadrilhas conseguem angariar de 2 a 3 milhões de reais, enquanto que no “novo cangaço†não conseguem isso e o risco é maiorâ€, disse. “Estamos tentando sensibilizar os juÃzes para não tratarem o furto de defensivos agrÃcolas como se fosse o furto de uma geladeira, de uma bicicleta. A própria economia do Estado é colocada em risco quando se começa a furtar grandes produtoresâ€, ponderou.Â
       De acordo com o delegado titular do GCCO, Flávio Henrique Stringueta, em regra as quadrilhas agem nos horários em que não há pessoas vigiando os locais com defensivos armazenados, na madrugada, finais de semana ou feriados. “O mais comum é o crime de furto, cuja pena é realmente muito baixa se comparada ao novo cangaço, em que o crime pode ser de roubo triplamente majorado e até tentativa de latrocÃnio, devido aos disparos efetuados pelas quadrilhasâ€.
         As quadrilhas de ataques a caixas eletrônicos com uso de explosivos também estão “de olho†nos defensivos, justamente pelo risco ser menor. “Nos ataques a caixas eletrônicos relacionados a explosivos, que eleva a pena e a lucratividade é muito inferior, raramente ultrapassando os R$ 50 mil, há maior risco de serem pegos em flagrante, por se tratar de crime cometido nos centros urbanosâ€, completou Stringueta.
           Outro ponto, segundo os delegados, é a facilidade de acesso a grandes quantidades do produto armazenado em fazendas sem nenhuma segurança ou vigilância eletrônica, o que dificulta as investigações. “O fazendeiro quando compra o defensivo deixa em um galpão de zinco, sem nenhuma segurança, apenas com um cadeado e ninguém tomando conta do produto. Deixa dois a três milhões [de reais] armazenados dessa forma. Isso dificulta nosso trabalho. Não tem um sistema de filmagem, muitas vezes não tem alarme. Se a gente tivesse uma segurança maior por parte do fazendeiro iria facilitar a investigação e maior recuperaçãoâ€, destaca Diogo Santana.
         Para os crimes, as quadrilhas empregam de oito a 10 pessoas, que invadem as propriedades já com conhecimento do local exato onde o produto está guardado. Usando geralmente caminhonetes, colocam o agrotóxico na carroceria do veÃculo e depois transferem para um caminhão, que é mantido escondido nas proximidades.
           Para a PolÃcia Civil, os delitos não ocorrem aleatoriamente, as quadrilhas já têm mapeado a propriedade que armazena determinado tipo de produto, que é levado para compradores certos dentro do próprio estado e outros da região Centro Oeste, como Goiás. “Não é simples estar com uma carga de R$ 3 milhões com defensivos especÃficos e sair à procura de comprador. Antes de cometer o furto já sabem para onde irá cada carga. Nesse trabalho, identificamos algumas quadrilhas de Goiás que vêm para cá furtar e voltam com o produtoâ€, disse Diogo Santana.
           Devido à incidência das ocorrências, as PolÃcias Civis de Mato Grosso e Goiás firmaram parceria para troca de informações para intensificar a repressão à s quadrilhas que agem com roubos de defensivos agrÃcolas em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Tocantins.
               Em 2015 a parceria deu resultado e ajudou na recuperação de um caminhão e uma caminhonete, trocados por defensivos furtados de uma propriedade no municÃpio de Planalto da Serra (a 256 km de Cuiabá), e na prisão de dois membros de quadrilhas que agem em fazendas em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás.
        Um dos autores do furto de cerca de R$ 500 mil, ocorrido no dia 9 de outubro de 2015, foi preso na cidade de Caiapônia (GO) com um caminhão e uma caminhonete que recebeu em troca da carga de defensivo. O segundo preso acusado de roubos a propriedades rurais no Centro Oeste teve o mandado de prisão cumprido na cidade de Rio Verde, também em Goiás.
        Em outras investigações, 19 funcionários de uma empresa de transporte de defensivos foram presos durante operação da Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO). O grupo é acusado de desviar R$ 5 milhões, simulando roubos de cargas da empresa onde trabalhavam. “É a maior empresa de transporte de defensivos. Os funcionários criaram uma verdadeira organização criminosa lá dentroâ€, afirmou o delegado Diogo.
         Para 2016 o GCCO tem o compromisso intensificar a repressão a essa modalidade criminosa na medida em que receber maior efetivo e estrutura. “O agronegócio é a força motriz de nosso estado e esse crime atinge diretamente a principal fonte de arrecadação pública de Mato Grosso. Essa também é a meta da Secretaria de Segurança Pública e do governadorâ€, finalizou o delegado Flávio Stringueta.
Transporte
            Os defensivos são comercializados de acordo com a produção agrÃcola. No plantio da soja, por exemplo, sua comercialização ocorre de setembro a outubro. É transportado entre outubro a novembro e aplicado na lavoura de novembro até 20 de dezembro. O ideal é levar o produto em pequenas quantidades para as fazendas.
             Os defensivos são roubados nos perÃodos que antecedem as safras e durante o cultivo da soja, algodão, trigo e arroz. Devido ao alto valor agregado, principalmente herbicidas e fungicidas, são comercializados em todo o Brasil.