
Clã Newton Cardoso, filho de Edison Lobão e o deputado com o maior patrimônio já declarado estão entre os clientes da Mossack
DO ESTADÃO
          O acervo de 11,5 milhões de registros financeiros de um paraÃso fiscal expõe uma rede de empresas offshore de lÃderes do cenário polÃtico mundial – inclusive 12 chefes de Estado atuais e antigos – e revela como integrantes do cÃrculo de poder do presidente russo Vladimir Putin movimentaram secretamente US$ 2 bilhões por meio de bancos e companhias com atuação obscura.
          No Brasil, o escritório de advocacia tornou-se um dos alvos da Lava Jato, operação que alimentou acusações criminais contra importantes polÃticos e a uma investigação sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O escândalo ameaça o cargo da atual presidente, Dilma Rousseff. A Mossack Fonseca, que teve funcionários detidos pela Lava Jato, nega ter cometido qualquer delito no Brasil.
          As revelações descobertas nos arquivos vazados do escritório de advocacia expandem dramaticamente os vazamentos anteriores a respeito de registros de offshores que o ICIJ e seus parceiros revelaram nos últimos quatro anos.
         Os documentos revelam quatro décadas de registros da empresa Mossack Fonseca, sediada no Panamá e com escritórios em 39 localidades. Também há detalhes de acordos financeiros secretos de outros 128 polÃticos e funcionários públicos ao redor do mundo.
      O conjunto de dados mostra como a indústria global de bancas de advocacia e grandes bancos vende sigilo para polÃticos, fraudadores e traficantes de drogas, assim como para bilionários, celebridades e astros dos esportes.
            Os arquivos expõem a existência de companhias offshore controladas pelos primeiros-ministros da Islândia e do Paquistão, pelo rei da Arábia Saudita e pelos filhos do presidente do Azerbaijão. Eles também incluem pelo menos 33 pessoas e empresas que integram a uma lista negra do governo dos Estados Unidos por causa de evidências de que realizaram negócios com barões da droga mexicanos, organizações terroristas como o Hezbollah ou paÃses vistos como “párias†pelos norte-americanos, como a Coreia do Norte e o Irã.
               Os dados vazados cobrem um perÃodo de quase 40 anos, de 1977 até o final de 2015. Eles revelam um panorama inédito das entranhas do mundo dos paraÃsos fiscais, fornecendo uma visão dia a dia, década a década, de como dinheiro sujo flui pelo sistema financeiro global, alimentando a criminalidade e pilhando recursos públicos.
 POLÃTICOS BRASILEIROS CITADOS
             O deputado federal Newton Cardoso Jr (PMDB-MG) e seu pai, o ex-governador de Minas Newton Cardoso, usaram empresas offshores para comprar um helicóptero (US$ 1,9 milhão) e um flat (R$ 6,3 milhões) em Londres. Newton Cardoso Jr. elegeu-se deputado pela primeira vez em 2014. A offshore Cyndar Management LLC foi aberta em 2007, no Estado norte-americano de Nevada, quando ele ainda não tinha mandato. Já Newton Cardoso, o pai, adquiriu uma offshore em outubro de 1991, quando ainda era governador de Minas Gerais.
         Papéis da Mossack Fonseca indicam que o ex-deputado João Lyra (PSD-AL) também utilizou uma empresa offshore para abrir e manter uma conta no banco suÃço Pictet Asset Management, a partir de 2009. Em 2010, Lyra foi eleito deputado federal pelo PTB de Alagoas (depois, em 2011, filiou-se ao PSD). A offshore e a conta bancária não aparecem na declaração de bens que Lyra entregou à Justiça Eleitoral.
          O ex-senador e ex-presidente nacional do PSDB Sérgio Guerra (1947-2014) aparece nos documentos da Mossack Fonseca. Outra pessoa que manteve boas relações com o PSDB e está no banco de dados da firma panamenha é o banqueiro Saul Sabbá, do Banco Máxima. Sérgio Guerra adquiriu uma empresa offshore com a mulher, Maria da Conceição, e um dos filhos, Francisco. A transação foi intermediada por um escritório de Miami (EUA).
           Luciano Lobão, que é filho do senador e ex-ministro Edison Lobão (PMDB-MA), adquiriu uma empresa offshore com a Mossack Fonseca em agosto de 2011. A VLF International Ltd teve como intermediário um escritório de advogados de Miami Beach, na Flórida. A offshore foi usada para comprar um apartamento em Miami Beach em 2013, por US$ 600 mil. O imóvel foi vendido no ano seguinte por US$ 1,08 milhão. A mulher de Luciano Lobão, Vanessa Fassheber Lobão, também aparece como dona da VLF International.Â
Â
SANGUE REAL SOB SUSPEITA
           Familiares de pelos menos oito ex e atuais integrantes do Comitê Permanente do Politburo da China, o principal organismo de governo do paÃs, têm companhias offshore abertas por meio da Mossack Fonseca. Dentre eles está o cunhado do presidente Xi Jinping.
            A lista de lÃderes mundiais que usaram a Mossack Fonseca para abrir organizações offshore inclui o atual presidente da Argentina, Mauricio Macri, que foi diretor e vice-presidente de uma companhia sediada nas Bahamas gerenciada pela Mossack Fonseca, quando era empresário e prefeito da capital argentina. Um porta-voz de Macri disse que o presidente nunca teve, como pessoa fÃsica, ações da empresa, que é parte dos negócios da famÃlia.
           Documentos mostram que, durante os dias mais sangrentos da invasão de 2014 da Rússia à região ucraniana de Donbas (também conhecida como Donets), representantes do lÃder ucraniano Petro Poroshenko esforçavam-se para encontrar uma cópia de uma conta doméstica (como de água ou eletricidade) para completar a papelada necessária para a criação de uma holding nas Ilhas Virgens Britânicas.
          Um porta-voz de Poroshenko disse que a criação da companhia não teve nada a ver com “quaisquer eventos polÃticos ou militares na Ucrâniaâ€.
            Quando Sigmundur David Gunnlaugsson tornou-se primeiro-ministro da Islândia, em 2013, ele ocultou um segredo que poderia ter prejudicado sua carreira polÃtica. Ele e sua mulher compartilhavam a posse de uma empresa offshore sediada nas Ilhas Virgens Britânicas quando entrou no Parlamento, em 2009. Gunnlaugsson vendeu sua participação nas empresas para sua mulher, meses mais tarde, por US$ 1,00.
           Originalmente, a companhia detinha tÃtulos avaliados em milhões de dólares de três bancos islandeses que quebraram durante a crise financeira de 2008, tornando-o credor dessas falências. O governo de Gunnlaugsson negociou um acordo com os credores no ano passado, sem divulgar a participação financeira de sua famÃlia no resultado da questão.
             No caso da Operação Lava Jato, no Brasil, os promotores alegam que funcionários da Mossack Fonseca destruÃram ou esconderam documentos para mascarar o envolvimento do escritório de advocacia na lavagem de dinheiro. Documento policial diz que, em um dos exemplos, um funcionário da filial brasileira enviou um e-mail instruindo colegas de trabalho a esconder registros envolvendo um cliente que poderia ser alvo da investigação policial. “Não deixe nada. Eu os guardarei no meu carro ou na minha casaâ€.
Do blogdoantero
Imagem destaque / divulgação







