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Desrespeito à vida

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Jairo Pitolé Sant’Ana (*)

                   Duas cenas não raras na paisagem cuiabana, como se fosse uma situação normalíssima e sem nenhum risco – pais dirigindo com a criança no colo ou a própria criança ensanduichada, entre pai e mãe, em cima de uma motocicleta.  

Imagem ilustrativa / web

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 Sempre que flagro uma dessas cenas me dá um frio na barriga só de pensar nas estatísticas sobre mortes no trânsito, aqui no Brasil, e sinto que há alguma coisa errada com a gente.

 Como sempre, somos um país hiperbólico. Miséria pouca é bobagem. Gostamos de números grandes, tipo 7×1, por exemplo, mesmo que eles nos sejam desfavoráveis.

 Como em várias outras modalidades, também estamos entre os primeiros do mundo, quando se trata de mortes no trânsito. Só perdemos para China (1,3 bilhão de habitantes), Índia (1,25 bilhão de habitantes) e Nigéria.

 Segundo Ministério da Saúde e Seguro DPVAT (Danos Pessoais causados por Veículos Automotores de Via Terrestre), 43.075 pessoas morreram, em 2014, em decorrência de acidentes de trânsito no Brasil, enquanto 201 mil feridos foram hospitalizados. Já no ano passado (2015), foram pagas 42.500 indenizações por mortes e 515.750 por invalidez, provocadas por acidentes de trânsito. 

 Pedestres e motociclistas são as maiores vítimas desta mortandade. Segundo dados do Mapa da Violência, entre as 43.256 mortes registradas no trânsito em 2011, em primeiro lugar estão as provocadas por acidentes envolvendo motocicletas (14.924), seguidas por atropelamentos (12.117). As mortes envolvendo automóveis somaram 12.481, transporte de cargas (1.573) e ônibus (252).

 Voltando a 2014, somando as mortes provocadas por acidentes de trânsito (43.075) com as provocadas por armas de fogo (44.861) são 87.936 mortes violentas a cada ano acontecendo no país, sem que nada seja feito para por fim a esta situação.

 Ao contrário. Ao invés de se aprimorar e baratear o transporte coletivo, o que se vê é o constante estímulo ao transporte individual, mesmo para as camadas mais pobres da população.        

 É muito mais barato comprar e manter uma moto popular do que gastar R$ 14,40 diários ou R$ 288 mensais (20 dias) em quatro viagens diárias de ônibus. Mesmo com as altas taxas de juros, fica mais em conta pagar 48 ou 60 prestações em uma moto e ter mobilidade do que se utilizar de um transporte ruim e moroso.

 Não é a toa que o número de motos em circulação no país tenha aumentado assustadoramente desde o final da década de 1990, quando entrou em vigência o atual Código Nacional de Trânsito.

 Em Cuiabá e Várzea Grande, por exemplo, são mais de 150 mil motociclistas se movimentando diariamente em ambas as cidades, com seus vícios fatais, como ultrapassagem pelo lado direito e mau uso das rotatórias.

 Ou seja, tudo será como antes.    

 *Jairo Pitolé Sant’AnaÂ