Troca de experiências sobre maquiagem e cabelo fortalecem autoestima.
Mulheres ressaltam importância da rede para a discussão de padrões.
blog em novembro de 2010. (Foto: Arquivo pessoal)
       A necessidade de discutir padrões, falar sobre truques de beleza especÃficos e relatar experiências pessoais tem unido mulheres que vivem no Rio de Janeiro e trabalham no fortalecimento da autoestima e no reconhecimento da beleza negra pela internet. Entre relatos sobre maquiagem e cuidados para cabelos afro, elas ajudam outras mulheres a se aceitarem.
        A administradora Rosângela José, autora do blog Negra Rosa, Rosa Negra, começou a produzir conteúdo depois de não se identificar com as imagens que via na internet: “Quando eu comecei a acompanhar blogs de beleza, eu tinha dificuldade, porque as cores em peles negras ficam totalmente diferentes. E eu só via cores de batom em blogs de meninas que não são negras. Até você compreender todo este processo, de que a cor dos lábios influencia, à s vezes você se frustra, porque a cor não fica igual.â€
        Ativa em fóruns sobre maquiagem, Rosângela decidiu montar um canal no YouTube e, mais tarde, o blog, que existe desde novembro de 2010.
         A professora de literatura Fabiana Lima, dona do canal do YouTube Beleza de Preta, acredita que a internet potencializou uma tendência histórica de reconhecimento e valorização da estética dos negros.
         “Eu acho que, desde a década de 1970, os movimentos negros lutaram por isso. Com a internet, a partir da década de 1990, isso tomou um novo sentido. Porque pessoas de diferentes lugares e idades podem se relacionar por esta rede. Acho que tem sido bastante interessante, embora não seja o ideal ainda†diz Fabiana.
adolescência nos seus alunos.
(Foto: Arquivo pessoal)
A importância da autoestima
Anastacia Moreno, do blog Ame Seu Crespo, acredita que a difusão de conhecimentos sobre a beleza negra pela internet é importante para que as meninas conquistem autoestima desde cedo: “São outras possibilidades de cuidado e beleza para meninas que, de outra forma, não teriam acesso a isso.â€
       Por ser professora de Sociologia para estudantes do Ensino Médio, Anastacia vê nas suas alunas os mesmos dilemas que via em si mesmo quando tinha a idade delas. Para ela, a web amplia o espaço no qual as jovens podem encontrar soluções para seus dilemas de beleza.
       “Infelizmente não tive acesso à s coisas bacanas que elas têm hoje na internet. Foi um processo dolorido, mas que me motivou a escrever no blog e a compartilhar os meus conhecimentos nos fóruns porque é muito difÃcil estar sozinha. E é importante ter essa rede de apoio. Ter alguém para poder compartilhar informações técnicas e inseguranças que temos nas nossas vidas. E também ter modelos nos quais nós possamos nos espelhar também. Ter pessoas bonitas e felizes que não precisam alisar o cabelo para serem aceitas†diz Anastacia.
       Além dela, Mabia Barros, do blog MaxiBolsa, também considera importante ter modelos nos quais as meninas negras possam se ver refletidas: “Como toda menina negra, eu dei muita cabeçada, testei muita coisa no cabelo para alisar, porque a gente cresce achando que o cabelo é ruim, que tem que relaxar, que tem que controlar, que tem que fazer alguma coisa. Eu levei bastante tempo até chegar a uma estética que tivesse mais a ver comigo, com as minhas origens, com a minha raiz, com a minha identidade. É um processo de construção de identidade.â€
O caminho de descobrir a própria beleza
Mabia também acredita que o Rio de Janeiro tem um cenário favorável à valorização da beleza negra. “É uma cena forte, até por conta dos bailes charme, do hip hop e, inclusive, dos bailes funk. Tem uma galera se juntando e que tem produzido muita coisa sobre beleza negra aqui no Rio de Janeiro.â€
        Fabiana Lima também começou a descobrir a própria beleza na adolescência, em um longo processo de aceitação: “Desde os 15 anos, eu me aproximei de movimentos e grupos culturais negros. E, desde então, eu comecei a me ver de outra forma. Mas somente com 33 anos eu passei a usar os meus cabelos naturais. Passei a deixar de usar quÃmica de alisamento. Isso inspirada nas mulheres que eu admirava, dos grupos culturais e movimentos negros que eu frequentava.â€
cenário favorável a uma valorização maior da beleza
negra. (Foto: Arquivo pessoal)
         A jornalista e pesquisadora da cultura negra, Luciana Xavier, é frequentadora de fóruns de discussão sobre a beleza negra desde os tempos do Orkut. Ela ajuda a espalhar o conhecimento que conquistou: “Aprendi muito nesses fóruns e comunidades, e comecei a repassar essas informações para outras pessoas. Muita gente me parava na rua, para perguntar o que eu fazia no cabelo, como cuidava, e eu indicava essas comunidades. Foi um aprendizado espontâneo, em que discutÃamos questões ligadas à estética, e também à própria identidade negra, autoestima, feminismo.â€
           Segundo Rosângela, descobrir a própria beleza passa pela autoaceitação: “Eu sempre gostei de mim. Mas quando eu assumi meu cabelo natural, mudou realmente. Eu me sinto muito mais completa, mais autêntica. E isso transformou tudo. Se você pegar uma foto minha antes do cabelo natural e uma depois, eu acho que é visÃvel a diferença. Foi uma coisa vindo com o tempo.â€