O Brasil deu importantes saltos nas taxas de sobrevivência de câncer de mama e próstata, segundo estudo publicado nesta quarta-feira na edição online do periódico especializado The Lancet.
O estudo mapeou diversos tipos de tumores em 67 paÃses e quantas pessoas sobreviviam a eles cinco anos após seu diagnóstico.
A partir de dados de diagnósticos e óbitos analisados em sete cidades brasileiras, abrangendo cerca de 80 mil casos, concluiu-se que a porcentagem de sobrevivência de pacientes com câncer de mama subiu de 78,2% entre 1995 e 1999 para 87,4% entre 2005 e 2009 (dados mais recentes). O Ãndice se assemelha ao de alguns paÃses desenvolvidos.
Na análise de pacientes de câncer de próstata, a sobrevivência aumentou de 83,4% em 1995-99 para 96,1% em 2005-09.
“Isso parece indicar uma melhoria na qualidade do tratamento e um aumento na detecção precoce dessas doenças no paÃs”, disse à BBC Brasil Gulnar Azevedo e Silva, coautora do artigo do Lancet e pesquisadora e professora associada do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. “Mostra que o Brasil melhorou muito na atenção a alguns tipos de câncer.”
No entanto, os dados analisados por Azevedo no mesmo perÃodo sugerem uma piora nas taxas de sobrevivência a outros tipos mais letais – e de diagnóstico mais difÃcil – de câncer, como estômago (Ãndice caiu de 33% para 25%), fÃgado (de 16% para 11,6%) e leucemia em adultos e crianças (de 34,3% para 20,3% e de 71,9% para 65,8%, respectivamente).
Para a especialista, isso pode não necessariamente significar que os brasileiros estão morrendo mais dessas doenças, mas sim que ficou mais fácil o acesso aos dados de mortalidade analisados pelo estudo entre 1995 e 2009.
“Acredito que, antes, muitos desses casos, ainda que letais, não eram registrados como casos de câncer e portanto nós (pesquisadores) não tÃnhamos como identificá-los. Portanto, essas porcentagens podem não ser totalmente comparáveis”, diz.
“Mas também parece não ter havido uma melhora no acesso ao diagnóstico e ao tratamento. Não é um problema só daqui – os Ãndices foram semelhantes em outros paÃses da América Latina.”
No Chile e em Cuba, por exemplo, as taxas de sobrevivência em câncer de estômago são de 18% e 26,2%. Mas o Ãndice chega a ser bem mais alto em alguns paÃses desenvolvidos: no Japão, ela sobe para 54%, mais que o dobro da taxa brasileira.
Para Azevedo, o paÃs precisa manter o foco na detecção precoce dos tumores e investir para que a qualidade do tratamento dos cânceres se torne mais igualitária nas diversas partes do paÃs.
Disparidades no mundo
O estudo, o maior mapeamento internacional já feito para analisar a sobrevivência de 11 tipos de câncer, envolveu cerca de 26 milhões de casos em 67 paÃses, mas concluiu que os dados de sobrevida de pacientes ainda são escassos.
Uma das principais conclusões, a partir dos dados existentes, é que existe uma grande disparidade entre paÃses na eficiência de sistemas de saúde em diagnosticar e tratar as doenças. Isso faz com que cânceres sejam muito mais letais em alguns paÃses do que em outros.
“A sobrevivência em cinco anos de crianças com leucemia aguda linfoblástica é de menos de 60% em diversos paÃses, mas chega a 90% no Canadá e em quatro paÃses europeus, o que indica grandes deficiências no gerenciamento de uma doença altamente curável”, diz o levantamento.
No Brasil, a taxa de sobrevivência dessa doença foi de 65,8% até 2009.
“As comparações de tendências internacionais revelam diferenças muito amplas de sobrevivência, que provavelmente podem ser atribuÃdas a diferenças no acesso a diagnósticos precoces e tratamento ideal”, prossegue o texto.
“A continuidade da observação da sobrevida ao câncer deve se tornar uma fonte indispensável de informação para pacientes e pesquisadores e um estÃmulo para polÃticos, que devem melhorar leis e sistemas de saúde.”
Por um lado, o estudo afirma que “o fardo global do câncer está crescendo, particularmente em paÃses de renda baixa e média”, que têm de “implementar estratégias efetivas de prevenção” com urgência e pensar, no longo prazo, em estratégias de prevenção.
Por outro, houve melhorias consistentes na sobrevida de pacientes de câncer de próstata, intestino e mama em diversos paÃses do mundo.
Já os tumores malignos de fÃgado e pulmão continuam sendo letais no mundo inteiro, com taxas de sobrevida ainda baixas (no Brasil, cerca de um terço dos pacientes sobrevive após cinco anos). bbc.co.uk
Postado por Jose Luis Pindado Verdugo