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Documento aponta que em cinco anos, os agentes brasileiros mataram tanto quanto os americanos em 30 anos
Foto: Daniel Ramalho / Terra
             Uma polÃcia violenta, mas que também é vÃtima da criminalidade. Esse é o retrato da atuação policial no Brasil, revelado pela edição 2014 do Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
        O levantamento aponta que, em apenas cinco anos, as polÃcias brasileiras – civil e militar – mataram tanto quanto a americana em três décadas.Por outro lado, os números de policiais mortos no Brasil também batem recordes, o que revela uma falência geral do sistema, avalia Samira Bueno, diretora executiva do Fórum Nacional de Segurança Pública, responsável pelo estudo.O Anuário destaca a alta vitimização e letalidade policial no paÃs.
           Foram 11.197 mortes causadas por policiais entre 2009 e 2013, ano em que as polÃcias civil e militar mataram seis pessoas por dia no Brasil. No perÃodo de cinco anos, 1.770 policiais foram mortos – 490 apenas no ano passado. Para Samira, ambos os cenários são face de um mesmo processo e que está relacionado ao padrão de atuação extremamente violento que as polÃcias brasileiras operam.       Â
             Em resposta, afirma ela, é urgente que se pense em reformas, como uma nova arquitetura institucional para as polÃcias.Samira avalia que o atual sistema faliu devido a sua fragmentação, pois não há um órgão que comece e termine o trabalho policial, lembrando das competências civil e militar. “Nosso modelo não tem dado as respostas adequadas no combate ao crime e à violência. As polÃcias acabam sendo reprodutoras da violência e também não conseguem enfrentar o crime, tanto que na última década vimos aumentar os indicadores de homicÃdioâ€, salienta.
              Apesar de os números apresentados pelo estudo evidenciarem um padrão abusivo de atuação das polÃcias brasileiras, Samira ressalva que os dados são subestimados e que o cenário real deve ser ainda pior. Ela menciona a dificuldade de coleta e sistematização das informações entre as instituições. “São indicadores frágeis aindaâ€, pondera.Assim, o Anuário não pode ser usado como comparativo entre todos os estados.
           São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Bahia, Pernambuco e Pará estão entre aqueles que há mais de uma década contabilizam as estatÃsticas. Entre esses, polÃcia gaúcha é a de menor letalidade – a taxa em 2013 foi de 0,4 mortes provocadas por policiais a cada 100 mil habitantes. O Rio lidera em números absolutos (416 casos) e com uma taxa de 2,5/100.000.Policiais mortos
                 Em 2013, 490 policiais mortos de forma violenta no Brasil: 121 durante alguma operação e 369 (75,3%) em um momento que não cumpriam serviço pela sua instituição. São três vezes mais mortes fora de serviço. Segundo Samira, as vÃtimas podem ter sido surpreendidas durante uma reação a roubo não-fardadas ou no cumprimento do chamado “bico†para complementar a renda – o que é uma realidade em todo o paÃs. “É nesse momento que acaba desprotegido e mais vulnerávelâ€, avalia Samira, lembrando que, quando em serviço, o policial conta com o aparato da corporação, como rádio, viatura, o parceiro e a própria farda.Â
                Segundo a diretora do Fórum de Segurança, não se pode, contudo, descartar a ação do crime desorganizado, no qual o assassinato de um policial pode dar novo status a um integrante. “As mortes de policiais refletem na prática um espiral de violênciaâ€, diz. “No caso de São Paulo, se sabe que os policiais são objeto da ira do crime organizado. É mais um resultado perverso desse sistemaâ€, lamenta. Nos Estados Unidos, em 2013, 96 policiais foram mortos em serviço. Já no Reino Unido, a média é de oito policiais mortos por ano em decorrência da profissão.
             E essa espiral da violência inclui um fator cada vez mais pesado da equação: o sistema prisional. O Brasil possui uma grande população de presos, quase 575 mil pessoas – 215 mil deles em caráter provisório. Só que não há vagas para todo mundo. Com crescimento de 9,8% entre 2012 e 2013, o déficit de espaço nas cadeias chega a 220 mil vagas. Sem estrutura adequada nem perspectiva de ressocialização, o quadro prisional brasileiro contribui para o aumento da violência em todos os nÃveis da sociedade.Soluções possÃveis para a violência policial
              Foram 53.646 mortes violentas no Brasil em 2013 – 11% dos homicÃdios no mundo ocorrem no paÃs, que tem menos de 3% da população mundial. Uma das conclusões do Anuário de Segurança Pública é que o paÃs tem condições de assumir como meta reduzir em 65,5% os homicÃdios até 2030, com uma média de 5,7% a cada ano.Presente na pauta de possÃveis soluções para esse quadro, a desmilitarização das polÃcias tem o apoio de seu quadros.       Â