MT EM CRISE
Com os fatos que brotam sem parar o ciclo dos escândalos perdeu lugar para a era da apatia, da indiferença social
EDUARDO GOMES /Â Da ReportagemDC
       Mato Grosso não tem mais o interesse de antes diante de notÃcia de nova operação policial, nem de delações premiadas e muito menos na troca de farpas entre autoridades ou ex-autoridades acusadas de improbidade administrativa ou outro crime qualquer. Com os fatos que brotam sem parar o ciclo dos escândalos perdeu lugar para a era da apatia, da indiferença social.
Em setembro de 2015 quando o ex-governador Silval Barbosa se entregou à polÃcia, que o procurava a dois dias cumprindo ordem de prisão preventiva decretada pela juÃza da Sétima Vara Criminal Selma Rosane de Arruda, Mato Grosso voltou seu olhar à quele fato, inédito, de um governador que acaba de deixar o cargo e vai parar numa cela. Silval permaneceu preso por 21 meses e somente ganhou liberdade – com medidas restritivas – após fazer delação premiada ao Ministério Público Federal (MPF), com homologação pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux.
Silval responde a várias ações por improbidade administrativa, admitiu que foi o chefe de uma organização criminosa que atuava na sombra em seu governo, recebendo propinas para concessão de incentivos fiscais, superfaturando obras e cometendo outros crimes.
A prisão de Silval e de vários integrantes de seu secretariado ou ocupantes de cargos importantes no governo ganhou as manchetes. Os remanejamentos carcerários dos presos, a tentativa de sua defesa em botá-los em liberdade, o teor dos depoimentos dos ex-secretários Pedro Nadaf, José Nunes Cordeiro, Arnaldo Alves, Marcel de Cursi, Éder Moraes, Roseli Barbosa (mulher de Silval), Pedro Elias, Afonso Dalberto (Intermat), Chico Lima (ex-procurador do Estado), João Justino Paes Barros (ex-presidente da Metamat) e dos demais era assunto predominante nos meios jornalÃsticos, polÃticos e sindicais.
Quando da prisão de um grupo de empresários e do secretário de Educação de Mato Grosso, PermÃnio Pinto – acusados de operadores de um esquema de superfaturamento nas obras de reforma e construção de escolas – o interesse pelas operações em curso prosseguiu.
A revelação da Grampolândia pantaneira, que foi um esquema de escutas telefônicas clandestinas do qual teriam participado secretários de Estado e integrantes da PolÃcia Militar manteve o interesse mato-grossense nas investigações em curso. O desembargador do Tribunal de Justiça, Orlando Perri, que cuida do caso, disse que mais de 70 mil gravações criminosas iniciadas no apagar das luzes do governo de Silval, em 2014, e que prosseguiu até a prática ser descoberta pelo então secretário de Segurança Pública, promotor Mauro Zaque. Esse fato, que por duas vezes resultou na prisão do ex-chefe da Casa Civil, Paulo Taques – primo do governador Pedro Taques – não deixou que o interesse coletivo apagasse. Também por suspeita de participação no mesmo esquema estão presos os ex-secretários coronel Airton Siqueira (Justiça e Direitos Humanos), coronel Evandro Lesco (Casa Mlitar) e o delegado Rogers Jarbas (Segurança Pública), além do ex-comandante da PolÃcia Militar, coronel Zaqueu Barbosa.
Pesadas denúncias contra a Assembleia Legislativa e a prisão preventiva do seu vice-presidente Gilmar Fabris, decretada por Fux, em 15 de setembro, por acusação de obstrução de justiça feita pelo MPF, ganharam destaques.
Não menos espaço perante a opinião pública teve a decretação do afastamento dos conselheiros do Tribunal de Contas do Estado (TCE), Waldir Teis, Antônio Joaquim, Sérgio Ricardo, Valter Albano e José Carlos Novelli. Todos foram afastados por Fux, com base na delação de Silval que os acusa de terem recebido R$ 53 milhões para aprovação de suas contas relativas às obras para a Copa do Mundo de 2014 e ao programa rodoviário MT Integrado. Os cinco estão proibidos de irem ao TCE e de conversarem com seus servidores.
Em meio a esse fogaréu o governador Pedro Taques pediu ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), que o investigue, para evitar que paire alguma dúvida quanto ao seu desconhecimento sobre os fatos relativos ao esquema Grampolândia. Taques sustenta que não sabia das escutas, mas quer o episódio passado a limpo judicialmente. Esse posicionamento também ocupou grande espaço na cobertura jornalÃstica.
A sucessão de escândalo desembocou na banalização do noticiário a respeito e o assunto perdeu interesse. Sociólogos entendem que o cidadão brasileiro – apesar das recentes punições impostas a figurões – continua incrédulo sobre condenação de poderosos. Esse ingrediente, na avaliação de analistas polÃticos, pode salvar polÃticos envolvidos do julgamento popular.
A Justiça tradicionalmente é lenta. Mais morosa ainda se torna diante do volume de ações criminais e cÃveis movidas pelo Ministério Público Estadual e o MPF contra polÃticos, empresários ligados a obras públicas e servidores, em tribunais de acordo com a prerrogativa de foro do denunciado.
O silêncio beneficia mais de uma dezena de deputados estaduais acusados por Silval de recebimento de mensalinho, e dentre eles, Baiano Filho e Fabris, que aparecem num vÃdeo discutindo suposto recebimento de tal propina com SÃlvio Corrêa, então chefe de Gabinete de Silval; José Domingos Fraga, recebendo pacotes de dinheiro; Wagner Ramos, supostamente negociando propina com um filho do ex-governador; além deles são citados Romoaldo Júnior, Mauro Savi, Guilherme Malfu, Nininho, Oscar Bezerra, Dilmar Dal’Bosco, Sebastião Rezende, Silvano Amaral e outros.
A indiferença popular também favorece aos prefeitos Emanuel Pinheiro (Cuiabá) e Luciane Bezerra (Juara) que aparecem em vÃdeos recebendo dinheiro de SÃlvio Corrêa. O deputado federal Ezequiel Fonseca, à época deputado estadual também é personagem das gravações entre os que pegaram dinheiro com o ex-chefe de Gabinete, e, claro, vê o silêncio como aliado estratégico.
Esse comportamento social é benéfico também para os congressistas citados em delação por Silval: deputados federais Ezequiel Fonseca, Carlos Bezerra e Fábio Garcia; o senador Cidinho Santos e o senador licenciado e ministro da Agricultura Blairo Maggi.
O benefÃcio também chega a Carlos Fávaro e Neri Geler; Fávaro é vice-governador e secretário de Meio Ambiente, e Neri é secretário Nacional de PolÃtica AgrÃcola do Ministério da Agricultura. Os dois, segundo Silval, teriam montado uma engenharia financeira para pagamento de dÃvidas de campanha.
Ex-deputados estaduais que mesmo sem mandato não se afastaram dos meios polÃticos também lucram com o silêncio, a exemplo de Airton Português, Antônio Azambuja, HermÃnio Barreto, Alexandre Cesar, Luiz Marinho, Riva, Ademir Brunetto, Juarez Costa e outros citados por Silval em algum tipo de relação atÃpica com o governo.
À exceção dos delatores e de Riva, ainda sem delação homologada judicialmente, os demais citados, filmados e gravados negam envolvimento com os esquemas delatados.