Início Justiça e Você Coronel chora e diz que plano para afastar desembargador foi dele

Coronel chora e diz que plano para afastar desembargador foi dele

96
0
Google search engine

Coronel PM Evandro Lesco prestou depoimento à polícia antes que inquéritos fossem remetidos ao STJ

 G1 MT

 O coronel da Polícia Militar, Evandro Lesco, afirmou em depoimento à delegada Ana Cristina Feldner que o plano para tentar afastar das investigações o desembargador Orlando Perri, que era relator do inquérito dos grampos no Tribunal de Justiça de Mato Grosso, foi criado por ele para beneficiar apenas a si mesmo. Lesco, que é ex-chefe da Casa Militar, está preso desde o dia 27 de setembro por suspeita de envolvimento em um esquema de grampos clandestinos no estado.

             Durante o depoimento, Lesco chegou a chorar. Ele confessou sua participação no plano, afirmando que dava ordens ao sargento PM João Ricardo Soler e à mulher dele, Helen Lesco – que também foram presos na Operação Esdras – e que determinou a instalação de uma microcâmera na farda do tenente-coronel José Henrique Costa Soares, que atuava como escrivão nas investigações dos grampos na PM e denunciou o plano à polícia. Soares afirma que foi coagido a participar do plano.

 Lesco disse que foi procurado pelo tenente-coronel José Soares, que teria oferecido informações sobre as investigações e reforçou que foi o sargento Soler quem instalou a câmera na farda.

           O coronel disse que ele e os demais envolvidos chegaram a conversar sobre como o plano era arriscado e afirmou que, ao mandar Soler preparar a farda, não revelou qual seria o propósito da ação. Ele disse, ainda, que reconhece o crime que cometeu e que está arrependido.

 “Reconheço e me arrependo profundamente de ter proposto isso a ele. A iniciativa dele de se arrepender e ter denuciado isso, acredito que foi a atitude correta. Mas a proposta foi minha”, disse.

Segundo informações que a reportagem teve acesso, após prestar esse depoimento, Lesco ainda procurou a polícia para dar detalhes sobre o esquema de interceptações clandestinas, mas o caso foi levado para o Superior Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília, antes que o novo depoimento fosse prestado.

  Operação Esdras

O coronel da PM foi preso durante a Operação Esdras, deflagrada pela Polícia Civil após depoimento do tenente-coronel José Henrique Costa Soares, escrivão no inquérito policial militar que apura o esquema dos grampos. Ele revelou os “novos participantes” do suposto grupo criminoso, segundo a polícia.

 Além de Lesco, da mulher dele e do sargento Soler, também foram presos na operação o então secretário de Segurança Pública do estado, Rogers Jarbas, o ex-secretário da Casa Civil, Paulo Taques – primo do governador Pedro Taques (PSDB) -, o então secretário de Justiça e Direitos Humanos, coronel Airton Siqueira e o major Michel Ferronato. O empresário José Marilson da Silva também foi preso, mas, foi solto após contribuir com as investigações.

 Esquema dos Grampos 

Evandro Lesco já havia sido preso em junho deste ano, por suspeita de envolvimento no esquema. Na época, ele era chefe da Casa Militar, cargo do qual foi afastado três dias após a prisão. Em julho, ele e outras quatro PMs foram denunciados pelo Ministério Público Estadual por ação militar ilícita, falsificação de documento, falsidade ideológica e prevaricação.

 Conforme as investigações, o coronel Evandro Lesco comprou, no próprio nome e no valor de R$ 24 mil, um equipamento que pode ser usado para escutas telefônicas. Da nota de compra consta como endereço de entrega o Comando da PM, em Cuiabá. Na época, a instituição negou ao G1 ter recebido o aparelho.

 O esquema dos grampos foi denunciado à Procuradoria-Geral da República (PGR) pelo promotor de Justiça Mauro Zaque, que foi secretário de Segurança em 2015. Ele diz que recebeu denúncia do caso naquele ano e que alertou o governador Pedro Taques.

 Agora, a PGR investiga se Taques sabia do crime e de quem partiu a ordem para as interceptações. O governador, por sua vez, nega que tinha conhecimento sobre o caso.

 Segundo consta na denúncia, políticos de oposição ao atual governo de Mato Grosso, advogados, médicos e jornalistas tiveram os telefones grampeados.

 Os telefones foram incluídos indevidamente em uma investigação sobre tráfico de drogas que teria o envolvimento de policiais militares. O resultado dessa investigação, porém, não foi informado pelo governo até hoje.

 

Veja o vídeo: