O nosso jardim perdeu uma bela flor. Não há palavras ou frases que não soem banais, quem sabe até ofensivas nessa ingrata tentativa de registrar a incredulidade com que todo mundo e cada qual recebeu a infame notÃcia de que nosso jardim perdeu uma de suas mais belas flores.
          Palavras não são transparentes, não podem ser escritas com lágrimas e não carregam o peso da dor de quem redige perplexamente esse texto; palavras aqui só podem ser simples caracteres que não têm nada a dizer, a não ser apontar para o vazio deixado em nosso jardim.
          Carolina Herrmann Coelho de Souza, a nossa querida Carol, foi retirada de nós, aos 34 anos, em mais uma demonstração do ódio e da violência, que banalizada segue a perpetuar-se em cada minúsculo espaço do nosso insano cotidiano; uma verdadeira guerra, silenciosa e brutal, travada no dia-a-dia de uma sociedade, lamentavelmente, cada vez mais adoecida e cada vez com menos flores lindas e coloridas como a nossa Carol.
Nós, dos Amigos da Terra Brasil, não nos sentimos suficientemente capazes de expressar a infinita gratidão, carinho, orgulho e respeito que mantemos por essa bela flor que tanto regou nosso jardim com seus sorrisos, amor e dedicação. Não nos sentimos suficientemente capazes, pois, assim como todas as pessoas que conheceram a nossa flor, não aceitaremos tão cedo referirmo-nos no passado a ela que só tinha futuro, um lindo e colorido futuro, como todas as mais belas flores dos mais belos jardins.
Ao nosso amigo – e companheiro de nossa flor – Danilo de Siqueira, que está hospitalizado em função do “acidenteâ€, bem como à s respectivas famÃlias, só podemos lamentar que nesse primeiro momento essas palavras não os possam abraçar diretamente no coração, na esperança vã – ainda que infinitamente honesta – de levar algum singelo conforto e alento.
Enlutados e sem condições de continuar a reverberar nossa incomensurável dor coletiva, apenas podemos encerrar com a densa tristeza de um jardim que perdeu a sua bela flor.