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Nunca antes, neste País, se assistiu a uma posse presidencial tão complicada quanto à atual. Não consta que, um dia, alguém inconformado tenha invadido e muito menos vandalizado a sede dos três poderes, de uma só vez.
Também é inédito o comportamento dos concorrentes trocando acusações até depois do resultado das urnas, e o veredicto popular ser desacreditado a ponto dos descontentes passarem mais de dois meses acampados à porta dos quartéis (de onde só saíram por ordem judicial) pedindo uma solução militar para esse assunto, que é eleitoral.
Outro ineditismo é a prisão de mais de mil acampados e o discurso carrancudo que contra eles se faz, como se todos tivessem participado do quebra-quebra ou, ainda, tentado dar um golpe de Estado. É preciso apurar as condutas individuais e apená-las devida e justamente.
A política brasileira vem debilitadas há muitos anos. Depois do regime militar de 1964, já assistimos ao impeachment de Fernando Collor, o primeiro eleito diretamente na nova fase, e de Dilma Rousseff a segunda petista a governar. Pontuaram acusações de diferentes matizes que chegaram a levar Lula ao cárcere depois de ter governado oito anos e eleger e reeleger a sucessora. Michel Temer, que sucedeu a Dilma, também chegou a ser detido. E hoje trabalha-se para encontrar algo que autorize o encarceramento de Jair Bolsonaro.
Não me cabe julgar e nem especular se certas ou não as medidas a que foram submetidos os ex-governantes, e nem o relaxamento delas. O que lamento é a onda de narrativas que se criou em cada momento na busca da defesa do próprio grupo e da penalização do adversário.
Embora seja justificado como democrático, esse comportamento tem de ser coibido, especialmente quando conduz inverdades na expectativa de que, ditas repetidas vezes, ganhem contornos de verossimilhança.
Tudo o que aconteceu notadamente na última década – independente dos autores e dos supostos atingidos, ainda é fato inconcluso que deveria ter a devida apuração e a justa cobrança àqueles que agiram indevidamente ao apurar, denunciar, até punir.
Um mesmo fato não pode ter duas ou três conclus& otilde;es e todas estarem certas ou erradas. É preciso definir o correto e, pelo menos decretar o imperfeito. Uma tarefa que, salvo melhor juízo, deveria ser cumprida com toda isenção e sem nenhum viés político, pelo Poder Judiciário, com acompanhamento das entidades da sociedade civil, notadamente aquelas ligadas ao Direito.
Neste momento nervoso da vida nacional, o desejável é que cessem os discurrsos e principalmente as afirmações incertas. Que os eleitos se debrucem sobre suas obrigações de governar, legislar e fiscalizar. Os não eleitos, ocupem seus lugares na oposição e sejam honestos, fiscalizadores e evitem narrativas sabidamente inverídicas. O próprio presidente da República – embora seja uma figura humana e sujeita a emoções – precisa evitar afirmativas que ainda não tenham comprovação e, especialmente, deixar de provocar os adversários (inclusive os generais) porque isso só serve para aumentar as dificuldades. Como o guardião do telhado, não deve jogar pedras para o alto e, como lider do grupo, tem a obrigação de conter os a rroubos dos seus auxiliares para que também não o façam.
Não importa quem esteja sentado na cadeira de mandatário, desde que este seja legitimado pelo voto. O País precisa de paz para produzir e seguir seu destino como sociedade. Sem os males e malabarismos que têm conspurcado a cena política. Carecemos buscar razões para votar naqueles que se candidatam aos postos eletivos e, mercê de suas atuações, ter orgulho de ter-lhes confiado os destinos do País, do Estado e do Município. Infelizmente, por diferentes razões, o povo brasileiro não tem experimentado essa glória. O prato que o meio político tem lhe servido é amargo e malcheiroso. E precisa ser preparado sob nova receita onde hajam menos narrativas falaciosas, ódios e outros sentimentos menores…
Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo) – aspomilpm@terra.com.br