Início Justiça e Você CAMINHOS DA RECUPERAÇÃO: Feliz dia das Mães!

CAMINHOS DA RECUPERAÇÃO: Feliz dia das Mães!

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                 Longo é o caminho de recuperação da dependência em drogas (licitas ou não), ou mesmo alcançar a superação de problemas emocionais como depressão, neurose e ansiedade. Qualquer pessoa que tenha experimentado o horror, confusão e dor de ter um membro da família que é viciado em drogas sabe o que significa sentir-se fora de controle. Por conta disso, o Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT), irá contar por meio de cinco reportagens as histórias de superação de pessoas que foram auxiliadas pelo Núcleo Núcleo Psicossocial Forense (NUPS) localizado no Juizado Especial Criminal Unificado da Capital (Jecrim).
 
Há poucos dias da comemoração que homenageia a mães, Dona Ângela, terá o que comemorar, depois de seguir por um longo caminho de lutas e sofrimento por mais de 13 anos. Tudo isso porque pôde contar com uma porta aberta no Núcleo Psicossocial Forense do programa Justiça Terapêutica do Poder Judiciário de Mato Grosso.
 
“Treze anos não são trezes dias” e não são mesmo! Sem visão e com apenas os demais sentidos aliados a intuição materna, dona Ângela Emília de Souza, 53 anos, batalhou mais de uma década para livrar sua filha do mundo das drogas. “Até hoje me pego revistando as coisas dela, a procura de algo. É um cuidado de mãe, desnecessário nesse ponto da vida dela. Hoje sinto confiança na minha filha, mas há hábitos que não nos livramos com facilidade”, comentou.
 
O hábito foi adquirido depois de inúmeras noites sem dormir, esperando o retorno da filha que na época tinha 15 anos. “Eu trancava aporta e ela pulava a janela. Quantas noites dormi com a chave debaixo do meu travesseiro? Quantas vezes procurei por algum sinal de vida da minha filha nas praças e nos becos da cidade? Essa não é uma tarefa fácil, foi complicado. Eu preciso dar uma respirada, pois esse assunto é muito difícil”, narra dona Ângela de pois de algumas pausas e freios na respiração. O olhar perdido é uma metáfora que parece ver aquilo que por anos, aconteceu.
 
A história
 
Sozinha e com uma filha, dona Ângela perdeu a visão após uma tuberculose ocular. Sem a presença do pai biológico de sua filha, a senhora de 53 anos retoma a história: “Às vezes me culpo por tudo isso. Penso que talvez tenha dado muita responsabilidade para minha filha, tenha cobrado muito as suas notas na escola, exigido que ela fosse madura muito cedo. Também pela ausência do pai. [mais uma vez a fala é embargada] Tentei me atirar debaixo de um carro e queria tirar minha vida. Eu não aceitava, nunca havia visto isso, não sabia nem o que era a tal da droga”.
 
A distância da filha, o comportamento diferente, o cheiro e as atitudes foram os indícios de que algo estava errado. “Mesmo cega percebia o jeito de ela andar hesitante. O comportamento mudou, a respiração era diferente, ficava o dia todo dormindo; Não conseguia dormir à noite e ficava acordada andando e indo beber água, inquieta. Algumas pessoas na rua me falavam que ela estava fumando cigarro. Eu questionava com ela e sempre me negava. A partir dai fiquei reparando nela, o jeito que ela saia de casa e depois como ela voltava”.
Numa dessas incursões ao quarto da filha, dona Ângela, encontrou um embrulho escondido nas coisas da filha. Sem saber ainda do que se tratava foi à procura de informações com vizinhos e amigos. “Foi até que um dia mostrei a um familiar o papelote. Foi então que ela me disse que era droga. Meu chão desabou. Eu não sabia o que fazer”, ponderou.
 
A caminhada contra as drogas
 
Brigas, mentiras, roubos e desconfiança aumenta e transformam as vidas de mãe e filha. “Eu não abraçava minha filha, não tinham mais o contato com ela. Ela sumia por dias, ou fica o tempo todo dormindo. Um dia saímos juntos e lá no Centro ela me deixou sozinha. Foi procurar as amigas (que não eram nada amigas). Eu cega ali sozinha. Ai acontecem, coisas incríveis, quando nós perdemos um sentido desenvolvemos outros. Ouvi uma pessoa passando na rua e falando que tinha ido no Fórum para pedir ajuda para a filha que estava usando droga. Eu chamei a mulher e perguntei mais sobre isso e a pessoa me informou”, comentou.
 
Portas abertas e muito amor
 
Esse foi o pontapé inicial para uma luta que a família iniciaria contra as drogas. Por meio de um Boletim de Ocorrência, a filha foi intimada a comparecer ao Nusps. “O juiz fez um compromisso comigo: prometeu ser o ‘GPS’ da minha filha que iria monitorá-la. E foi assim que ele fez, por isso agradeço primeiramente a Deus e depois o pessoal do Nups. Fico até emocionada quando lembro fomos auxiliadas e tratadas. O Doutor Mário Connor sempre ia atrás comigo e nós internávamos ela, na clinica. Foram várias recaídas, mas o pessoal do Nups sempre nos recebendo e se esforçando para que a Luana voltasse a ficar sem usar drogas”.
Um abraço, um café e palavras amigas era tudo isso que Liz (nome fictício) precisava para tomar sua decisão final. “Teve uma ocasião que morreu um parente e nós fomos ao velório. Lá um tio da Liz veio e deu um abraço apertado nela. Quanto chegamos em casa ela virou e me disse: ‘nossa minha família me ama e me quer bem’”, contou dona Ângela.
 
A nova vida que vem para salvar
 
Mesmo com a vontade de parar, Liz não passou bons momentos. Teve recaídas não conseguia ficar sóbria por muito tempo. Numa dessas recaídas ficou três dias sem voltar para casa. “Ela reapareceu depois de uns dias sumida e eu sentia que ela queria me dizer algo. Sentia que os passos delas estavam pesados e a respiração diferente. Eu sabia, estava sentindo que ela estava grávida. Os passos são diferentes, a gente coloca reparo e sabe. Tudo nela era diferente, quando eu ia abraçar ela virava de lado. Ai o que aconteceu, ela resolveu ir no Fórum e contar tudo para eles. Logo me ligaram e quando cheguei lá eles me contaram. Inclusive que ela já tinha tentado tirar a menina”, contou Dona Ângela.
 
A redenção
 
No passado brigas, desconfiança, medo. Hoje amor, carinho e atenção. Essa é a realidade da família que se reestruturou – Liz iniciou o curso de assistência social e está trabalhando como camareira. “Quero poder falar com pessoas que passaram por coisas que eu passei. Tentar salvar mães, vidas e sonhos que um dia quase perdi para sempre para o mundo das drogas”, comentou Liz.
 
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Ulisses Lalio/Fotos: Tony Ribeiro (F5)
Coordenadoria de Comunicação do TJMT
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