Covid-19 prolongada atinge 10% a 20% dos infectados

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    por RTP

    Reuters

    Entre dez a 20 por cento das pessoas com covid-19 sofrem de sintomas após recuperarem da fase aguda da infeção, uma condição “imprevisível e debilitante” que afeta também a saúde mental, alertou esta quinta-feira a Organização Mundial da Saúde.

    “Embora os dados sejam escassos, estimativas recentes apontam que dez a 20 por cento das pessoas com covid-19 experimentam doença contínua durante semanas ou meses após a fase aguda da infeção”, refere o Relatório Europeu da Saúde 2021 da OMS hoje divulgado.

    Segundo o documento, esta situação conhecida por long covid ocorre em pessoas com um historial de infeção pelo SARS-CoV-2 geralmente três meses a partir do início da covid-19, com sintomas que duram pelo menos dois meses, sendo a fadiga, falta de ar e a disfunção cognitiva os mais comuns.

    A condição pós-covid-19 é imprevisível e debilitante e pode, posteriormente, levar a problemas de saúde mental, tais como ansiedade, depressão e sintomatologia pós-traumática”, alerta o capítulo do relatório dedicado à pandemia.

    De acordo com o documento da OMS Europa, o que influencia o desenvolvimento e gravidade da long covid é, até agora, desconhecido, mas não parece estar correlacionado com a gravidade da infeção inicial por SARS-CoV-2 ou com a duração dos sintomas associados, sendo, porém, mais comum em pessoas que foram hospitalizadas.

    “Espera-se que o número absoluto de casos aumente à medida que ocorrem novas ondas de infeção na região europeia e é necessária mais investigação e vigilância” a esta condição específica provocada pela covid-19, adianta ainda o documento.

    O relatório sobre a Saúde na Europa, que é publicado a cada três anos, refere ainda que as medidas de contenção da pandemia, como os confinamentos, “influenciaram negativamente os comportamentos de saúde” da população europeia.

    Estas restrições tiveram impacto nos padrões de consumo de álcool, tabaco e de drogas em “partes significativas da população”, registando-se também “um aumento do comportamento sedentário e alterações negativas” ao nível alimentar.

    A OMS adianta também que o encerramento de escolas e universidades em diversos países, durante as fases mais críticas da pandemia, teve um “impacto no bem-estar mental” das crianças e adolescentes.

    Uma análise recente mostra um número significativo de crianças que sofrem de ansiedade, depressão, irritabilidade, desatenção, medo, tédio e distúrbios do sono“, alerta a OMS, ao avançar que o encerramento de escolas durante os picos da pandemia em 2020 e 2021 tem provocado perdas na aprendizagem e perturbação no desenvolvimento cognitivo de crianças e adolescentes.

    “Os dados emergentes mostram perdas de aprendizagem correspondentes de um terço a um quinto de um ano letivo e foram reportadas mesmo em países com uma aplicação relativamente curta das medidas de saúde pública e sociais e o acesso generalizado à Internet. Isto sugere que as crianças fizeram pouco ou nenhum progresso enquanto aprenderam em casa”, sublinha a organização.

    O relatório evidencia ainda que, devido à natureza do seu trabalho, os profissionais de saúde estão em maior risco de infeção por SARS-CoV-2 e a prevalência de infeção é ligeiramente maior entre os profissionais de saúde do que na população em geral.

    “As estimativas atuais mostram que cerca de 10% dos profissionais de saúde foram infetados. Cerca de 50 por cento destes eram enfermeiros e 25 por cento eram médicos”, adianta o documento.Cerca de 40% dos serviços de saúde interrompidos devido à pandemia
    Cerca de 40 por cento dos serviços essenciais de saúde foram interrompidos na Europa no primeiro ano da pandemia, um padrão que se manteve em 2021, e a covid-19 está a ter um “impacto desproporcional” na saúde mental dos europeus.

    O alerta consta do mesmo relatório, que considera que ainda existe uma “janela crítica de oportunidade” para os governos e as autoridades saúde nacionais tomarem as medidas necessárias para minimizar o impacto da pandemia a vários níveis.

    Segundo o documento da OMS Europa, durante os primeiros meses da pandemia, 40 por cento dos serviços essenciais de saúde foram pelo menos parcialmente interrompidos, uma perturbação que se manteve em 2021, com a suspensão a atingir cerca de 29 por cento desses serviços.

    “O impacto da pandemia na saúde da população vai para além do impacto da própria doença. Afetou igualmente o acesso universal a cuidados de qualidade e a promoção e proteção da saúde física, mental e social e do bem-estar da população em geral”, sublinha o relatório.
    De acordo com a OMS, comparando com a situação de 2020, a magnitude e a extensão das perturbações nos serviços de saúde nacionais parecem ter diminuído ao longo de 2021, ano em que o “cancelamento dos cuidados de saúde continuou a ser um problema grave e está associado a questões de disponibilidade de pessoal e camas de internamento”.
    O relatório aponta o exemplo dos rastreios e tratamentos do cancro da mama, do colo do útero e colorretal, que na maioria dos mais de 50 países que integram a região europeia da OMS foram parcialmente interrompidos ou atrasados.

    O número de diagnósticos de cancro diminuiu significativamente”, adianta a OMS, ao alertar que os diagnósticos e tratamentos tardios do cancro têm impacto nas taxas de sobrevivência do paciente.

    A OMS reconhece que os dados variam sobre a quantificação do aumento do número de mortes evitáveis por cancro, mas aponta o exemplo do Reino Unido, onde um estudo estimou que os óbitos adicionais em cinco anos devido ao cancro da mama, colorretal, do pulmão e do esófago situam-se entre 3.300 e 3.600.

    “As políticas de cancelamento (parcial) de cirurgias eletivas não urgentes e/ou redução do tempo de hospitalização dos doentes foram implementadas por muitos países, incluindo a Bélgica, a República Checa, a Dinamarca, a Alemanha, a Irlanda, os Países Baixos, Portugal, a Suíça, a Turquia e o Reino Unido”, refere o documento.

    O relatório adianta também que a pandemia teve um “impacto desproporcionado” na saúde mental dos europeus, afetando principalmente as mulheres nas faixas etárias entre os 18 e 24 anos e dos 35 aos 44 anos.

    A OMS alerta ainda que a pandemia “não está a afetar todos igualmente”, uma vez que os seus efeitos diretos e indiretos “têm sido muito mais prejudiciais para a saúde e o bem-estar” das crianças, adolescentes, mulheres, idosos, refugiados e migrantes, grupos marginalizados, pessoas com doenças ou incapacidades de longa duração, que trabalham em empregos precários, desempregadas e que vivem na pobreza.

    “Embora a covid-19 possa afetar todos, não está a afetar todos de forma igual. É importante perceber que a morbilidade e mortalidade relacionadas com a covid-19 tendem a seguir um gradiente social e está relacionada com as condições em que as pessoas nascem, crescem, vivem, trabalham e envelhecem”, avança a OMS.
    Doenças não transmissíveis responsáveis por dois terços das mortes prematuras
    Dois terços das mortes prematuras na Europa são causadas por quatro doenças não transmissíveis, continente com uma das taxas de suicídio mais elevadas do mundo e onde as infeções por VIH estão a aumentar, alertou hoje a OMS.

    “Dois terços de todas as mortes antes dos 70 anos na região europeia da Organização Mundial da Saúde (OMS) são causadas por quatro grandes doenças não transmissíveis: cardiovasculares, cancros, doenças respiratórias crónicas e diabetes”, refere ainda o Relatório Europeu da Saúde 2021.

    Segundo o documento, um em cada cinco homens e uma em cada dez mulheres “está atualmente a morrer antes do seu 70.º aniversário de uma das quatro principais” doenças não transmissíveis, mortes que são “em grande parte evitáveis” e causadas por quatro fatores de risco comportamentais modificáveis: o consumo de tabaco, a dieta pouco saudável, a falta de atividade física e o consumo prejudicial do álcool.

    De acordo com o relatório da OMS, o suicídio constitui também um “importante contribuinte para a mortalidade prematura” na Europa que, apesar da redução registada, continua a “ter uma das taxas de mortalidade por suicídio mais elevadas a nível mundial”.Em 2019, ainda antes da pandemia da covid-19, 119.000 pessoas na região europeia da OMS, que inclui mais de 50 países, “morreram por suicídio”, salienta o relatório.

    A OMS alerta ainda que a Europa é uma das duas regiões da OMS onde o número de infeções por VIH está a aumentar, com um crescimento de cerca de seis por cento para cada mil pessoas entre 2015 e 2019, sendo o sexo heterossexual a forma mais comum de transmissão (50 por cento).

    Em 2018, as doenças cardiovasculares foram as que mais contribuíram para a mortalidade prematura (48,9 por cento), seguidas de perto pelo cancro (44,1), enquanto as doenças do sistema respiratório (3,7) e a diabetes (3,3) tiveram impactos menores neste indicador.

    A OMS avança ainda que o consumo total de álcool per capita diminuiu 1,3 litros entre 2000 e 2019, no entanto, os níveis de consumo na Europa continuam a ser os mais elevados a nível global.

    “Anualmente, os adultos (pessoas com 15 anos ou mais) da região bebem, em média, 9,5 litros de álcool puro”, o equivalente a 190 litros de cerveja, 80 litros de vinho ou 24 litros de bebidas espirituosas, alerta o relatório da OMS Europa.

    Em Portugal, de acordo com o relatório, o consumo total per capita aumentou de 11,9 para 12,1 entre 2015 e 2019.

    Segundo o relatório, o consumo de álcool está associado a 31 por cento das mortes por doenças digestivas, 11 por cento das mortes por doenças cardiovasculares, seis por cento das mortes por cancro, 30 por cento das mortes por lesões não intencionais (quedas, afogamentos, acidentes de viação) e 39 por cento das mortes por lesões intencionais (suicídio ou homicídio).

    Relativamente ao consumo de tabaco, a prevalência padronizada da taxa entre pessoas com 15 anos ou mais foi de 26,3 por cento em 2018 na Europa, tendo aumentado em Portugal entre 2010 e 2018.

    A OMS alerta que o uso de cigarros eletrónicos tem vindo a ganhar popularidade entre os jovens 13 e os 15 anos, com alguns países a registarem as taxas de utilização dos cigarros eletrónicos entre os jovens mais elevadas do que as dos cigarros convencionais.

    Na maioria dos países da região europeia da OMS, a prevalência de excesso de peso e de obesidade é maior em rapazes dos sete aos nove anos (29 por cento) do que nas raparigas (27 por cento) e quase uma em cada três crianças desta faixa etária vive com excesso de peso ou obesidade.

    O documento sublinha também que todos os países cumpriram a meta para a mortalidade materna de menos de 70 por 100 mil nados vivos até 2030, estando a taxa situada nos 13 por 100 mil nados vivos, a partir de 2017.

    Quanto aos profissionais de saúde, a região europeia da OMS tem a maior taxa de médicos (47,2 por dez mil habitantes) em todo o mundo e regista a segunda maior taxa de pessoal de enfermagem (81,9 por dez mil habitantes).
    c/ Lusa
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    Do RTP