

A Dinamarca, o paÃs menos corrupto do mundo, entre 168 pesquisados pela ONG Transparência Internacional, tem muito o que ensinar ao Brasil.
O paÃs colhe os frutos de mais de 350 anos de empenho contra a corrupção no setor público e privado.
Numa época em que a nobreza gozava de vários privilégios, o rei Frederik 3º proibiu que se recebessem ou oferecessem propinas e presentes, sob pena até de morte.
E instituiu regras para contratar servidores públicos com base em mérito, não no tÃtulo. A partir de então, novas medidas foram sendo instituÃdas perÃodo a perÃodo.
Brasil
O Brasil foi um dos paÃses que registrou a maior queda no ranking neste ano: caiu sete posições, para o 76º lugar. A ONG Transparência Internacional liga a queda ao escândalo da Petrobras.
O Ãndice de Percepção de Corrupção é baseado em entrevistas com especialistas – em geral, membros de instituições internacionais como bancos e fóruns globais – que avaliam a corrupção no setor público de cada paÃs.
Veja as lições que a Dinamarca dá para o Brasil e outros paÃses afetados pela corrupção
1) Menos regalias para polÃticos
O polÃtico Peder Udengaard é membro reeleito do conselho municipal (o equivalente a um vereador) de Aarhus, segunda maior cidade da Dinamarca, com cerca de 300 mil habitantes. Ele vive numa zona de classe média no centro e não possui carro, por isso vai a pé ao trabalho. Recebe um salário de 10 mil coroas dinamarquesas (R$ 6 mil) para horário parcial, complementados com atividades na direção de uma orquestra. O único benefÃcio que recebe é um cartão para táxi, que só pode ser usado quando participa de eventos oficiais. “Se eu tivesse filhos, iriam para a escola pública; encontro meu eleitorado no supermercado, na rua, no banco. Não tenho mais benefÃcios do que qualquer cidadão. Se quisesse enriquecer ou ter privilégios, não seria polÃticoâ€, completa.
2) Pouco espaço para indicar cargos
Quando o polÃtico é eleito, a equipe que trabalhará com ele é a mesma da gestão anterior. Além disso, o profissional que não reportar um ato ilÃcito é demitido. “, afirma Peder Udengaard, da prefeitura de Aarhus. “Regras claras sobre conflitos de interesse, códigos de ética e declaração patrimonial são muito importantesâ€, diz.
3) Transparência ampla
A Dinamarca também é considerada a nação mais transparente no ranking “2016 Best Countries†(“Melhores paÃses 2016â€), da Universidade da Pensilvânia, dos Estados Unidos. Os sites dos governos, de todas as instâncias, costumam ser bem munidos de dados sobre gastos de polÃticos, salários, investimentos por áreas etc. E qualquer cidadão pode requerer informações que não estejam lá.
4) PolÃcia confiável e preparada
Raramente, casos de corrupção envolvem a polÃcia dinamarquesa. “A polÃcia goza de alto nÃvel de confiança. Ser um policial geralmente é considerado uma posição relativamente de status. Isto faz jovens considerarem a carreiraâ€, acrescenta o especialista em segurança, Adam Diderichsen, professor da Universidade de Aalborg. Após terminar o ensino médio, policiais recebem pelo menos dois anos de treinamento. Eles usam armas, mas estão menos propensos a empregá-las do que em paÃses fora da Escandinávia. Em geral, segundo o especialista, recebem um “bom salário de classe média, especialmente se for levado em conta a generosa aposentadoriaâ€.
5) Baixa impunidade
O código criminal da Dinamarca proÃbe propina ativa ou passiva, abuso de poder público, peculato, fraude, lavagem de dinheiro e suborno. Para a Transparência Internacional, o motivo da baixa impunidade são as instituições fortes e independentes de Justiça. Já segundo o especialista em corrupção Gert Tinggaard Svendsen, professor da Universidade de Aarhus, “As leis não são tão duras, o que é duro é o mecanismo de punição. A tolerância à ilegalidade na Dinamarca é baixÃssima não só com relação à s instituições, mas até com indivÃduos do convÃvio que infringem normas das mais simplesâ€, diz.
6) Confiança social
Na Dinamarca, é comum alugar um livro da biblioteca sem o intermédio de um funcionário. Em alguns estabelecimentos, pode-se pegar o item, por exemplo uma fruta, e deixar o dinheiro. Ou, mais surpreendente, famÃlias não hesitam em deixar seus filhos num carrinho de bebê do lado de fora de um restaurante. Esses pontos, segundo Gert Tinggaard Svendsen, também autor do livro Trust, têm algo em comum: a confiança. “A confiança social traz regras informais ao jogo. São regras não escritas, entre pessoas. A confiança é a palavra-chave da autoregulaçãoâ€, explica Tinggaard, que pesquisou em 86 paÃses se as pessoas confiavam umas das outras. Na Dinamarca, mais de 70% disseram que sim. No Brasil, apenas 10%.
7) Ouvidoria forte
A Ouvidoria Parlamentar é um órgão que emprega cem funcionários e recebe por ano cinco mil reclamações contra o governo. Destas, pelo menos 50% resultam em crÃticas ou recomendações. “Se outros paÃses quisessem aprender com a Dinamarca, eles deveriam, por exemplo, ter um escritório parlamentar de ouvidoria com uma auditoria independente, para ajudar a controlar o Legislativo e Executivoâ€, pontua Peter Varga, da Transparência Internacional.
8) Empenho constante contra a corrupção
O combate à corrupção na Dinamarca começou no século 17, mas sofreu um aumento no século 19, após uma crise econômica. Para controlar o problema, foi instaurada a tolerância zero na administração real. Segundo a professora da Universidade de Aarhus, Mette Frisk Jensen, pesquisadora do tema, os nÃveis de corrupção são baixos desde então. Para Fernanda Odilla de Figueiredo, a experiência da Dinamarca nos ensina que o combate à corrupção não é resolvido de uma só vez. Trata-se de um processo longo, em que é preciso estar sempre vigilante. “O maior mérito da Dinamarca não é ser o primeiro lugar do ranking, mas se manter no topo por tanto tempo. Isso significa que o Brasil precisa não apenas melhorar o combate à corrupção, como encontrar uma forma de fazer isso de forma estável e consistente.â€
Com informações da BBC







