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Governo mineiro investe em pesquisa para expandir a produção de tilápia

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Dados da Associação Brasileira de Piscicultura (Peixe BR) apontam que o estado de Minas Gerais se tornou, no ano passado, o terceiro estado que mais produz tilápia no país, com 51.700 toneladas. Com o objetivo de explorar tal potencial para a criação da espécie e oferecer melhores condições para os produtores locais, a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) tem desenvolvido pesquisas voltadas para o setor.

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De acordo com as informações da Secretaria da Agricultura de Minas Gerais, as pesquisas envolvem a reprodução de alevinos melhorados geneticamente no Campo Experimental de Felixlândia e análises de qualidade das rações para peixe disponíveis no mercado.

Entretanto, apesar do recente sucesso no cenário nacional, a cadeia produtiva ainda enfrenta obstáculos, como o cumprimento de legislações ambientais e sanitárias, além da carência de assistência técnica. No caso específico da tilápia, que representa quase 70% dos pescados consumidos no Brasil.

Além disso, há ainda o problema da ausência de alevinos entre os meses de maio, agosto e setembro, pois as fêmeas não se reproduzem durante o inverno. Período em que as águas apresentam temperaturas abaixo de 21ºC. Isso representa uma ruptura no ciclo produtivo, pois interrompe o fornecimento constante de alevinos de qualidade e provoca uma queda no terceiro trimestre na produção de filé de tilápia.

“Para contornar essa questão, estamos desenvolvendo um projeto para trazer genéticas do Paraná e de Santa Catarina, que já estão sendo melhoradas há 12 anos, para fazermos a replicação e a conservação do material genético aqui em Felixlândia. A nossa estimativa é de produzir duas safras por duas famílias de espécies diferentes de tilápia, gerando algo em torno de dois milhões de alevinos a mais por ano, para tentar suprir a demanda dos produtores locais”, explica o pesquisador da Epamig Centro-Oeste, e coordenador do trabalho, Alisson Meneses.

Segundo ele, o projeto tem previsão de início para agosto deste ano e visa iniciar uma alevinocultura com reversão sexual, para que os piscicultores tenham melhor desempenho e rentabilidade em seus criadouros. Os filés obtidos a partir de tilápias machos podem gerar cerca de 20% a 30% a mais de rendimento do que as fêmeas, pois, quando adultas, elas gastam grande parte da energia ingerida em seus sistemas reprodutores.

“A reversão sexual é feita através da estimulação, com hormônio, na ração dos alevinos, durante 30 dias. Isso provoca a atrofia das gônadas femininas nas tilápias fêmeas, cujos organismos passam a se comportar como os dos machos”, detalha Alisson.

Após a reprodução dos alevinos, o próximo passo, de acordo com o pesquisador, será a instalação de um sistema de estufas em Felixlândia, para que o período reprodutivo não cesse durante o inverno. Isso permitirá a produção de novos peixes durante o período de entressafras.

“Além disso, futuramente, estamos com a possibilidade da elaboração de uma genética própria da Epamig, por meio da importação de material da Malásia e das Filipinas”, acrescenta Alisson.

Tilápia: do filé à confecção de bolsas e sapatos

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Foto: Wenderson Araujo/CNA

Segundo o pesquisador da Epamig Centro-Oeste, atualmente, a tilápia é praticamente 100% aproveitada por vários segmentos do mercado. Originalmente nativa do rio Nilo, no Egito, a espécie foi introduzida no Brasil nos anos 1950, para o controle de algas em reservatórios de usinas hidrelétricas. A temperatura e clima brasileiros favoreceram o crescimento de sua população e a espécie passou a integrar sistemas de produção intensivos em tanques-rede e suspensos.

“Hoje em dia, além do filé, principal produto, a tilápia oferece vários subprodutos. Sua pele é utilizada no tratamento de queimaduras, suas vísceras e espinhas para a composição da farinha de peixe, usada na produção de rações para pets, e seu couro para confecção de bolsas e sapatos”.

Outra demanda urgente dos produtores de tilápia em Minas Gerais é a falta de padrão na qualidade das rações oferecidas comercialmente. Por isso, a Epamig vem desenvolvendo mais um projeto, cujo objetivo é a avaliação desses produtos, para aprimorar o processo de fiscalização.

Sobretudo, o projeto está em fase de finalização e será submetido a edital da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), para a compra de um espectrofotômetro infravermelho, que auxiliará na avaliação de qualidade nutricional.

“Dentro desse projeto, temos também a ideia de montar um laboratório de referência para análise de qualidade de ração no estado de Minas Gerais, para que a Epamig passe a prestar um serviço continuado aos produtores interessados”, conclui Alisson.