
Imagem ilustrativa / divulgação    Â
    Pela segunda vez em três anos, o Brasil oferece ao mundo o tÃpico exemplo de imprevidência. Pior que, numa mesma unidade da federação e pelo mesmo grupo empresarial. O lamaçal de Brumadinho tem as mesmas caracterÃsticas do de Mariana, mas com maior e mais lamentável número de perdas humanas. Em Mariana vazaram 60 milhões de metros cúbicos de lama, que causaram dano ambiental até no mar e causaram 19 mortes. Já em Brumadinho, os 12,7 milhões de metros vazados atingiram diretamente mais de 500 pessoas (até agora, 58 mortos, 305 desaparecidos e 192 resgatados com vida). Ao mesmo tempo que as equipes buscam vÃtimas, é preciso avançar em providências. Primeiro identificar o efetivamente ocorrido e definir as responsabilidades para promover as devidas reparações e penalizações.
               É indispensável que se apure o histórico  – planta original, licenciamento, alterações de projeto,  fiscalização de implantação e operação da barragem sinistrada -, apure-se intercorrências operacionais, a possibilidade de reações quÃmicas do material depositado que possam ter alterado peso ou volume da massa, a ocorrência de movimentação sÃsmico comprometedora da base ou da estrutura e até possÃveis atos de sabotagens que possam ter levado ao rompimento e queda do dique. Concomitantemente, busque-se as responsabilidades tanto da operadora e sua equipe quanto das diferentes instâncias de fiscalização. ConcluÃda essa recomposição do histórico da obra e encontrados os responsáveis, sejam eles apresentados à Justiça para cada um responder no justo nÃvel de sua culpa ou dolo. Não devemos perder de vista, no entanto, que auditorias nacional e internacional verificaram recentemente a barragem sinistrada e garantiram sua regularidade. Daà a conveniência de apurar possÃveis alterações quÃmicas ou sÃsmicas.
               Mas isso não basta. É preciso que o ensinamento da tragédia sirva para a tomada de providências que evitem sua repetição em outros empreendimentos do gênero. O Relatório de Segurança de Barragens de 2017, publicado no ano passado, revela a existência de 790 barragens de rejeitos espalhadas pelo território nacional e que apenas 211 delas (o equivalente a 27%) foram vistoriadas naquele ano. Esse é apenas um detalhe da precariedade do setor, que deve ser acrescentado por outras observações como o nÃvel de confiabilidade que levou a própria operadora a manter suas instalações na parte baixa da barragem. Há que se questionar, ainda, o plano de emergência para possÃveis acidentes que comprometam comunidades rurais e urbanas localizadas na bacia hidrográfica que se torna escoadouro do material vazado.
               Já que a tragédia de Mariana pouco ou nada serviu para melhor a segurança do setor, espera-se que os novos governos – que agiram com mais celeridade que os de 2015 – tenham ações mais proativas e, até como homenagem à s vÃtimas de Brumadinho, sejam capazes de buscar a reparação dos danos com maior rapidez do ocorrido em Mariana, que ainda estão pendentes, e, principalmente, evitem novos eventos dessa natureza e magnitude. Além das 790 barragens de rejeito, existem no paÃs 22.920 barragens de água e só 12.590 delas possuem outorga, concessão ou autorização de funcionamento. Isso indica que 45% delas operam irregularmente, com riscos incalculáveis. É preciso mapear tudo isso, antes de termos de lamentar novas tragédias que, no caso, são previsÃveis e, até, anunciadas…
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Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)Â
aspomilpm@terra.com.br                                   Â







