O perito Ricardo Molina, contratado pela defesa do presidente Michel Temer, afirmou que a gravação feita pelo empresário Joesley Batista de sua conversa com o presidente, entregue ao Ministério Público Federal (MPF) no acordo de colaboração premiada, é “imprestável como provaâ€. Ele concedeu entrevista coletiva no fim da tarde de hoje (22) e disse que o áudio entregue pelo empresário “está completamente esburacadoâ€.
Molina explicou que a gravação foi feita em qualidade muito baixa e o áudio apresenta descontinuidades. Ou seja, não é possÃvel, segundo o perito, afirmar que não houve edição no áudio. “Não posso dizer se houve edição, ou não. Até por uma razão simples, porque não dá para escutar, na maior parte do tempo, o que o presidente está falandoâ€. Para ele, a gravação não poder ser considerada autêntica. “Ela é ruim e deve ser descartada. Eu não posso garantir que ela não foi manipulada.”
           Apontado pela defesa como “o melhor perito do Brasilâ€, Molina destacou o trecho no qual Joesley cita o ex-deputado Eduardo Cunha e a resposta de Temer: “Tem que manter isso, viu?â€. O perito explica que nesse trecho, de 17 segundos, foram encontrados seis pontos de possÃvel edição. Molina diz ainda que, em trechos de conversa menos relevante para o processo, não há tanta interferência no áudio. O perito informou que analisou a gravação durante dois dias e duas noites, junto com mais dois profissionais.Â
            O perito também criticou a postura do MPF de anexar a gravação ao inquérito sem tê-la submetido à perÃcia da PolÃcia Federal (PF). “Eles concluem que o diálogo ‘encontra-se audÃvel, apresentando sequência lógica’. Na fala do presidente, mais da metade é ininteligÃvel. Se [a fala] de um dos interlocutores que participaram da gravação é ininteligÃvel, como dizer que tem sequência lógica?â€, questionou.
           Molina apontou vários momentos em que há descontinuidades na gravação. Ele disse que o gravador utilizado por Joesley opera em qualidade muito baixa, em frequência de 4 bits. “São até raros os gravadores que usam 4 bits. Causa até estranheza que uma gravação de tal importância tenha sido feita com um gravador tão vagabundoâ€, disse.
           Joesley Batista gravou conversa que teve com Temer no Palácio do Jaburu, em março, e entregou cópias do áudio à Procuradoria-Geral da República (PGR), com a qual firmou acordo de delação premiada, já homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo o MPF, no encontro com Batista, Temer deu aval para que ele continuasse a pagar uma espécie de mesada ao ex-deputado Eduardo Cunha e ao doleiro Lúcio Funaro, ambos presos, para que continuassem em silêncio. O áudio da conversa, gravada por Joesley, foi tornado público na última quinta-feira (18).
PerÃcia
          No fim de semana, em pronunciamento à nação, Temer anunciou um recurso ao Supremo, questionou a legalidade da gravação e disse que há muitas contradições no depoimento de Joesley, dono do grupo JBS. Temer classificou a gravação de clandestina, manipulada e adulterada, “com objetivos nitidamente subterrâneos”. Nesta segunda-feira, o STF autorizou a PolÃcia Federal a realizar uma perÃcia no áudio entregue pelo empresário Joesley. Com isso, a defesa de Temer desistiu do recurso que pedia a suspensão das investigações relacionadas ao presidente.
           A abertura do inquérito sobre Temer por corrupção passiva, organização criminosa e obstrução da Justiça foi autorizada pelo ministro Edson Fachin na quinta-feira (18), a pedido da PGR.
Desistência de recurso
            O advogado do presidente, Gustavo Guedes, explicou que a desistência do recurso que solicitava a suspensão do inquérito se deu pela suspeita de que a gravação de Joesley não pode ser usada como prova e que o inquérito deve ser arquivado.
            “Tivemos informações pela imprensa, que apresentaram perÃcias próprias, indicando adulteração no conteúdo. Para nós, basta que “pode haver adulteração†[na gravação]. Recebemos o laudo à tarde e fui ao ministro Fachin. Disse que interessava [o pedido da realização da] perÃcia que ele deferiu. Até porque o presidente quer dar uma resposta rápida à sociedade. Logo, insistimos que esse inquérito seja logo encerradoâ€.
              Guedes disse que espera que o laudo da PF chegue a conclusões semelhantes à s de Molina. “Eu confio na PF, espero que cheguem a um resultado parecidoâ€.
Edição: Amanda Cieglinski