
Redução de 17 metros no reservatório em 33 dias provoca temor de crise no turismo e na pesca; municípios estimam perdas milionárias

Assessoria Prefeitura Colider
O rebaixamento de 17 metros no nível do reservatório da Usina Hidrelétrica de Colíder, iniciado pela Eletrobras no dia 14 de agosto, já altera o cenário econômico de municípios do Norte de Mato Grosso. A medida, que deve durar 33 dias, foi adotada após falhas identificadas em quatro dos 70 drenos da barragem. O prefeito de Colíder, Rodrigo Benassi, informa que usina continua em operação, mas o lago que abastece o reservatório sofre rápida retração.
Colíder, Itaúba, Nova Canaã do Norte e Cláudia concentram as atividades mais afetadas. Setores de turismo e pesca, que dependem do nível do rio para transporte e recreação, enfrentam prejuízos diretos. Pousadas, marinas e casas de aluguel perderam o acesso à água, que se afastou das margens. Em Itaúba, três grandes pousadas calculam perdas diretas de R$ 5,5 milhões apenas no período inicial do esvaziamento.
Benassi afirma que a situação compromete também a receita pública. “Se essa usina parar de gerar energia, os municípios impactados não receberão compensação hídrica. Isso vai reduzir a receita desses municípios”, lamenta. Segundo ele, a procuradoria municipal já estuda medidas judiciais para garantir compensações da Eletrobras pelo período em que o reservatório permanecer em nível reduzido.
TURISMO AMEAÇADO
O turismo regional cresceu nos últimos anos com a formação do lago da UHE Colíder, inaugurada em 2019. Marinas, pousadas de pesca esportiva e estabelecimentos familiares surgiram às margens do reservatório, especialmente em Colíder e Itaúba. Com a retração de 17 metros, barcos deixam de alcançar os pontos de pesca, o que obriga pousadas a suspender pacotes já vendidos.
O vice-prefeito de Colíder, Lourenço Marani, alerta que os prejuízos não se limitam à temporada atual. “O lago tem um papel indispensável para desenvolver a prática do turismo aqui na nossa região. A redução impacta diretamente as receitas e os atrativos turísticos. Só nos primeiros 45 dias, a perda pode chegar a R$ 5,5 milhões. A partir de outubro, começa a piracema, quando a pesca é proibida. Isso amplia a crise”, avalia.
As consequências financeiras também preocupam. Colíder recebe cerca de R$ 100 mil mensais em compensação hídrica. Itaúba, entre R$ 400 mil e R$ 500 mil. “Itaúba vai ter uma perda anual de, no mínimo, R$ 5 milhões, podendo ser ainda maior. Ainda não conseguimos mensurar a dimensão do impacto porque não sabemos quando o lago voltará ao volume normal”, afirma o prefeito Benassi.
PESCA EM DECLÍNIO
A redução do lago também compromete a pesca, tanto esportiva quanto de subsistência. Moradores de Itaúba relataram mortes de peixes e dificuldades de navegação. O rio Teles Pires, que antes se espalhava em alagados formados pelo reservatório, retorna ao leito original, encurtando áreas de pesca e limitando o acesso das embarcações.
O impacto da redução do reservatório da UHE colíder já atinge também o calendário de eventos regionais. Em Paranaíta, a 207 quilômetros de Colíder, o tradicional Fest Praia 2025 foi cancelado. A decisão, anunciada pelo prefeito Osmar Mandacarú, ocorreu após a constatação de que a área prevista para o evento perdeu com a redução do nível da água. O cancelamento representa prejuízo para o turismo local, comerciantes e prestadores de serviços que aguardavam a movimentação do público no fim de agosto.
Celso Banazeski, assessor especial da Vice-Governadoria, reforça que a atividade pesqueira e turística se tornou um dos pilares econômicos da região após a construção da usina. “O lago é uma fonte de receita natural. Hoje, ele movimenta pousadas, restaurantes e serviços ligados ao turismo. Com a redução, a água se afasta dos empreendimentos. Isso obriga cancelamentos, ressarcimentos e prejudica a imagem da região. A Eletrobras se comprometeu a avaliar os impactos e buscar soluções, mas ainda não temos clareza sobre o tamanho das perdas”, declara.
AÇÕES EMERGENCIAIS
A Eletrobras informa que o rebaixamento é uma medida preventiva e que a barragem permanece estável. O diretor-presidente da companhia, Antonio Pardauil, destacou na reunião desta terça-feira em Colíder com os prefeitos dos municípios afetados que a prioridade é garantir a segurança da estrutura. “O reservatório será rebaixado para permitir avaliações detalhadas da barragem. A operação é de prevenção. Não há risco de rompimento”, explica.
A empresa iniciou também uma operação de resgate de fauna aquática. Mais de 100 pessoas participam das ações, utilizando barcos, drones e helicópteros. Até o momento, cerca de 5 mil peixes foram capturados e realocados. A operação é acompanhada pela Secretaria de Meio Ambiente de Mato Grosso (Sema).
Apesar das medidas, prefeitos e empresários da região cobram clareza sobre as compensações. A expectativa é que novos encontros entre a Eletrobras e os municípios definam critérios de ressarcimento.
RECEITA COMPROMETIDA
Além do turismo e da pesca, a redução no nível do reservatório impacta diretamente as receitas municipais. A compensação financeira pela utilização de recursos hídricos, paga mensalmente pela usina, pode sofrer variações caso a geração seja interrompida em períodos de manutenção.
Segundo Benassi, a dependência de Itaúba é maior. “Hoje, a geração de energia na região de Itaúba representa aproximadamente 70% para Colíder e 10% para Nova Canaã. Isso afeta diretamente a receita municipal. Quando represaram o rio, levou um ano e meio para encher. A expectativa é de que agora também leve tempo até a normalização”, destaca o prefeito de Colíder.
INCERTEZA REGIONAL
A Eletrobras não definiu prazo para a recuperação completa do reservatório. Estudos técnicos em andamento avaliarão se haverá necessidade de reforços estruturais adicionais.
Enquanto os diagnósticos não são concluídos, municípios enfrentam cenário de incerteza. O turismo sofre cancelamentos. A pesca esportiva, que atrai visitantes de outros estados e países, está comprometida. Empresários do setor estimam desemprego e redução drástica na movimentação financeira.
Os prefeitos defendem que a Eletrobras estabeleça medidas de compensação imediata. “Essa é uma pauta urgente. Os municípios não podem arcar sozinhos com as consequências de uma medida que é de interesse da empresa e da segurança da usina”, argumenta Benassi.
A expectativa é que novas reuniões nas próximas semanas definam critérios de apoio às cidades atingidas. Até lá, a redução do lago continuará a transformar a paisagem e a economia da região.







