
“Em briga de marido tem que meter a colher sim”. É isso que a tenente-coronel e subchefe da Casa Militar, Grasielle Bugalho, costuma dizer quando o assunto é violência contra a mulher. No mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, ela é a entrevistada da Rádio TRT FM para falar sobre os mecanismos de proteção nas unidades da segurança pública e formas de denunciar.
Grasielle atua diretamente com a sociedade por meio de palestras nas quais leva informações para diversos meios sociais com foco na conscientização e importância da denúncia.
A Entrevista da Semana vai ao ar toda segunda, a partir das 8h, dentro do programa TRT Notícias. Para ouvir, basta sintonizar a frequência da rádio (104.3MHz – região metropolitana de Cuiabá) ou acessar o endereço www.trtfm.com.br. Também é possível ouvir através dos sites CX Rádio, Tudo Rádio, entre outros serviços semelhantes.
É comum as mulheres terem medo de denunciar situações de violência?
Ao longo dos anos foi construído o mito de que a mulher agredida que não deixa o companheiro gosta de viver em violência. Ninguém gosta de ser agredido e sofrer violência, muito menos da pessoa com quem tem um relacionamento amoroso.
Esse é um mito construído que pode ser visto em frases como ‘em briga de marido e mulher ninguém bota colher’. O Estado e a legislação existem justamente para amparar as mulheres que vivem uma situação de violência e possibilitar que elas meios de sair dessa situação. Muitas vezes existe uma dependência emocional da mulher, às vezes uma censura da própria família e por entenderem que tem de perdoar, que as coisas vão melhorar.
O que a mulher vítima de violência precisa é de apoio emocional e não de julgamento. Ainda falta muita informação. A violência contra mulher existe e não é apenas praticada com quem tem relação afetiva ou sexual, existe também a violência de filho para mãe e avós, por exemplo. Ainda vemos mulheres com medo de falar em razão desse ambiente social que está sempre julgando a mulher.
Só em janeiro deste ano já foram registradas 660 medidas protetivas concedidas a mulheres vítimas de violência doméstica. Como avalia esses números?
É necessário estudos aprofundados sobre os números de violência contra a mulher. Vou falar sobre homicídios com vítimas mulheres. Em Mato Grosso tivemos 84 homicídios em 2017, em 2020 tivemos 104, em 2021 tivemos 85. Todos os índices criminais no momento da pandemia decaíram mas, infelizmente, os dados de violência contra a mulher não refletem isso. Mesmo as pessoas dentro de casa, mesmo tendo diminuído alguns índices de ocorrência, as mulheres ainda continuam sendo vítimas.
Isso nos leva a refletir o porquê que as pessoas foram para dentro de casa e mantiveram esses índices de violência? Ameaças, lesões corporais e outros crimes continuaram altos. Não tem uma justificativa. Se estão dentro de casa, como o índice continua subindo? Tem estudos que mostram que uma a cada cinco mulheres vão ser vítimas de violência.
Quantas mulheres que a gente conhece foram vítimas de assédio na rua? Não estou nem falando de violência familiar. Com certeza você conhece alguém próximo ou da própria família que já foi vítima de violência. É isso que a gente quer para as nossas gerações? É isso que eu quero para minha filha?
Tivemos só no mês de janeiro 660 medidas protetivas, o que pressupõe-se que houve uma ocorrência, um registro policial, foi para delegacia isso virou um processo judicial e o juiz decretou a medida. Comemorar o Dia da Mulher é muito importante para que a gente tenha esse debate, mas temos que ter a consciência de que muito ainda tem que ser feito.
O botão do pânico foi criado em junho do ano passado, desde então, a justiça julgou mais de 2.500 pedidos e a ferramenta já foi acionada 123 vezes. Como esta tecnologia pode ajudar?
Essa tecnologia ajuda principalmente para diminuir casos graves que é o feminicídio. O botão do pânico é muito importante até para que a mulher consiga alertar o sistema de segurança pública mais rápido e seja atendida mais rápido. Para as mulheres que já estão neste ciclo, o sistema jurídico já chegou para protegê-las de alguma forma.
O que é o aplicativo SOS mulher?
É um aplicativo público e gratuito desenvolvido pela polícia judiciária civil. É fenomenal. É mais uma forma de as mulheres acessarem o aparato da segurança pública e terem um atendimento. Muitas vezes a mulher vítima não tem como ligar para pedir socorro. Qualquer mulher pode ter acesso.
Que medidas o Estado tem tomado para diminuir a violência contra mulher? Como as delegacias da mulher contribuem
Na atual gestão tivemos o plantão 24 horas da mulher. Até então não tinha aqui em Cuiabá. Hoje temos um plantão 24 horas da Polícia Civil só para atendimento às mulheres vítimas de violência e isso é muito importante. O acolhimento é diferente.
Temos outras políticas públicas como a Patrulha Maria da Penha que consiste em acompanhar de perto essas medidas protetivas que a justiça decretou. Faz a visita ao agressor também e informa que a vítima está sendo acompanhada pela Patrulha Maria da Penha trazendo para a mulher a sensação de que ela está sendo acolhida e protegida pelo Estado.
Como fazer denúncias em Mato Grosso?
Temos que denunciar! Existem várias formas e o 190 é uma delas. Quando vir uma mulher vítima de violência, ligue para o 190 ou para o Disque Denúncia, o 180. Apoie essas mulheres.
Não estamos ali para criticar mas apoiar e mostrar que existem formas de sair desse ciclo de violência. Tem que meter a colher sim, denunciar, orientar e estar sempre pronto para acolher essas mulheres.
(Comunicação Social)








