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* Mariana Branco
Quanto mais episódios depressivos, maior deve ser o cuidado para que o paciente não tenha reincidência
         Uma briga com o marido, um dia difÃcil no trabalho ou ficar muitas horas num congestionamento são situações extremamente desagradáveis, mas fazem parte da vida e, como tais, são superadas e administradas pela maioria das pessoas. Porém, para aqueles que já tiveram depressão não uma, mas repetidas vezes ao longo da vida, o desfecho dessa história pode ser diferente.
        “Cerca de metade das pessoas que deprimiram alguma vez na vida tem mais chances de desenvolver um novo episódio depressivoâ€, explica Doris Moreno, psiquiatra do Grupo de Estudos de Doenças Afetivas (Gruda) do Instituto de Psiquiatria (IPq) da Faculdade de Medicina da USP. “Depressões recorrentes funcionam como traumas repetidos e tornam o deprimido mais suscetÃvel ao estresseâ€, complementa. Além disso, suspeita-se que haja um fenômeno, chamado “kindlingâ€, que sensibiliza progressivamente o deprimido a cada novo episódio da doença levando a uma vulnerabilidade emocional tal, que para desenvolver novos episódios depressivos, nem há necessidade de novo estresse ou fator desencadeante – as crises se tornam autônomas. “É como uma árvore que já recebeu várias machadadas: ela pode ceder devido a um simples empurrão, ou cair sozinha por conta das agressões, enquanto aquela que nunca foi danificada permanecerá firme mesmo depois de ser empurradaâ€, exemplifica Dóris.
              Apesar de o fenômeno de Kindling abordar somente a questão dos traumas, com a depressão ocorre algo semelhante. Um fator estressor que não abalaria uma pessoa pode desencadear um novo episódio em quem já é depressivo crônico. A relação parece simples e direta, mas há vários fatores envolvidos nesse processo – inclusive lesões nos neurônios causadas pela doença, deixando essas células deficientes, prejudicando a transmissão de impulsos nervosos importantes no cérebro e, por consequência, predispondo a pessoa à reincidência do transtorno depressivo.
      “A depressão é uma doença multifatorialâ€, enfatiza a psiquiatra. “Por isso, levamos em conta principalmente a existência de outros casos na famÃlia, mas também da personalidade, do estilo de vida e histórico do paciente, além de alterações hormonais importantes – especialmente no caso das mulheres, entre outras caracterÃsticasâ€.
           Quanto mais fatores favoráveis à depressão existirem, mais rÃgido deve ser o acompanhamento deste paciente para evitar que um cÃrculo vicioso se estabeleça.A evolução no entendimento da depressão e o conhecimento cada vez mais aprofundado dos fatores relacionados a ela também possibilitou o desenvolvimento de medicamentos mais eficazes, combinados a menos efeitos colaterais. Os antidepressivos de 3ª geração, também conhecidos como duais, conseguem equilibrar a disponibilidade de dois neurotransmissores importantes na depressão: a noradrenalina e a serotonina.
           Por isso, diminuem sintomas como desinteresse, falta de prazer e de energia, baixa autoestima, dificuldade de concentração, entre outros. Ao mesmo tempo, esses medicamentos duais, como a desvenlafaxina, não interferem significativamente na libido e no peso do paciente, além de possuir baixa interação medicamentosa – o que aumenta a adesão ao tratamento.
Seguir corretamente o tratamento é imprescindÃvel, já que o objetivo é manter a doença sob controle, evitando os sintomas e o surgimento de novos episódios depressivos. “A psicoterapia aliada a medicamentos antidepressivos são armas necessárias para manter o paciente que é muito vulnerável longe deste cÃrculo viciosoâ€, finaliza Doris. * Mariana Branco – mariana.branco@cdn.com.br