MPT participa de inspeção judicial em aldeias no norte de MT; Companhia Hidrelétrica Teles Pires e terceirizada são acionadas na Justiça por trabalho em condições degradantes
         O Ministério Público do Trabalho (MPT) em Alta Floresta participou, no fim do mês passado, de uma inspeção judicial realizada em cinco aldeias no norte do estado de Mato Grosso, e verificou que trabalhadores da Alliance Construtora Ltda., empresa contratada pela Companhia Hidrelétrica Teles Pires S/A, estão submetidos a condições de trabalho degradantes.
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       Os trabalhadores foram contratados para construção de farinheiras nas aldeias Tukumã, Minhocuçu, Coelho e São Benedito e de uma casa de apoio e farinheira na aldeia Kururuzinho, todas pertencentes à comunidade indÃgena Kayabi, localizada na fronteira entre Mato Grosso e Pará. As obras estão inseridas nas chamadas “medidas compensatóriasâ€, que visam amenizar os impactos socioambientais causados na região com a construção e operação da usina.
       A inspeção ocorreu por determinação judicial, para análise do pedido de antecipação de tutela efetuado pelo MPT, que englobava, dentre outros, a interdição da obra. O procurador do Trabalho Marcel Bianchini conta que ajuizou a ação no inÃcio de maio contra as empresas, tanto a prestadora e como a tomadora, e obteve uma liminar para obrigá-las a corrigir as irregularidades no meio ambiente de trabalho, sob pena de pagarem multa diária de 30 mil reais. A juÃza Gisleine Maria Pinto, entretanto, negou na época o pedido de interdição das obras.
“Em razão de pedido de reconsideração da decisão feito pelo Ministério Público do Trabalho, a juÃza Titular da Vara do Trabalho de Alta Floresta, Janice Schneider Mesquita, determinou inspeção judicial para averiguar as condições alegadas na petição inicial. Com a inspeção judicial, a primeira decisão poderá ser reavaliadaâ€, explica.
O MPT já havia constatado, por meio da análise de fotos e depoimentos, que a Alliance não oferecia as condições mÃnimas de trabalho aos empregados: utilizava transporte irregular, tanto terrestre quanto fluvial, fornecia alimentação precária e/ou estragada, não disponibilizava água potável, descumpria todas as normas relativas à s áreas de vivência, não concedia descanso semanal remunerado e fraudava os cartões de ponto. Alguns trabalhadores chegaram a afirmar que só não passaram fome porque os Ãndios colaboravam doando comida.
“Na inspeção verificamos que a situação continua a mesma. Existe um alojamento, adaptado em uma casa indÃgena, na aldeia polo de Kururuzinho, onde se verificam algumas irregularidades, como a ausência recorrente de água para o banho. Entretanto, as situações mais graves são nas demais aldeias, onde sequer há banheiros e água potável aos trabalhadoresâ€, relata o procurador Marcel Bianchini.
Morte
No dia 29 de fevereiro, dez pessoas estavam sendo transportadas em um barco de pesca para o local de uma das obras quando a embarcação virou. Leonildo Marques, de 44 anos, morreu. Segundo depoimentos de sobreviventes, não havia coletes salva-vidas para todos os trabalhadores durante o trajeto de cerca de 80 km pelo rio Teles Pires.