E tem os ipês

*Vivi Antunes

   

                      Percorrendo, em um ônibus lotado, a asa sul do avião, levanto os olhos a tempo de ver o meu primeiro ipê florido do ano.

                  Distraída, que estava, quase não tive tempo de apreciá-lo, apenas notá-lo rapidamente.

                       Essa época do ano é marcada pela seca implacável, que acentua as crises nos asmáticos, alérgicos e todos aqueles que têm problemas respiratórios. É nesse período também que, se você não tomar cuidado, muito cuidado, não só seus pés, mas também todo o seu corpo acaba virando um solo árido marcado pelas rachaduras.

                 Não quero assustar, mas caso nunca tenha nos visitado, não se apavore ao chegar aqui nesse período e, sem ter nem pra quê, seu nariz começar a sangrar. Fique tranquilo, não é para a morte, simplesmente é efeito da seca.

                    Natural é você ver, em qualquer lugar, as pessoas armadas com garrafas de água e beberem a todo tempo. Elas fazem parte, junto com os batons de manteiga de cacau, do kit sobrevivência da seca.

Mas não se espante, existem também seus encantos.

                  O céu que nesse momento vejo é do mais puro e deslumbrante azul. Não existem possibilidades de se encontrar uma nuvem por aqui. As noites são abusadamente estreladas e a lua, digna de Hollywood.

                  Com alguns cuidados básicos, como protetor solar, boné e muita água, programas ao ar livre são bem-vindos. Afinal, a chuva não irá atrapalhá-los!

Com esse tempo a escova dura mais dias e o frio que não é de matar, mas dá para fazer uma gracinha, é o convite perfeito para programas bem gostosos.

E tem os ipês.

Eles são um espetáculo à parte.

Caso queira, atravesse as asas de carro de ponta a ponta em algum momento do período da seca. Só nelas, segundo estimativas, são mais de 150 mil ipês.

Escolha um período até outubro, quando não só o roxo está dando o seu show, mas também o rosa, o amarelo e o branco.

O contraste que os coloridos ipês faz com a grama absurdamente seca torna tudo ainda mais bonito.

Belezas e encantos de um lugar que, mesmo seco, recebe você sempre de asas abertas.