
Desde que o presidente do TJ-SP reconsiderou a suspensão, centenas de pacientes procuraram a universidade
Folha Press
 
          O Instituto de QuÃmica da USP em São Carlos divulgou um comunicado que orienta pacientes a não irem à instituição para buscar a fosfoetanolamina -substância que supostamente trata vários tipos de câncer-, e afirma que enviará a droga por correio a pacientes que obtiveram liminares.
       O suposto medicamento foi desenvolvido por um professor da instituição, mas ainda não foi testado em humanos -passou apenas por estudos iniciais em células e em animais.
         No comunicado, a USP reitera que “não dispõe de dados sobre a eficácia da fosfoetanolamina” e também “não dispõe de médico para orientar e prescrever a utilização da referida substância”.
       Em uma espécie de cartilha com perguntas e respostas, o informe diz que a droga não irá acompanhada de bula nem de informações sobre eventuais contraindicações e efeitos colaterais.
    “O IQSC será notificado da liminar através do oficial de justiça e encaminhará a substância via sedex/AR no endereço constante na petição inicial. O serviço do correio será cobrado do destinatário”, diz o tópico sobre a entrega das cápsulas.
       A universidade vinha sendo procurada por centenas de pacientes nos últimos dias, depois que, no dia 9, o presidente do TJ-SP, desembargador José Renato Nalini, reconsiderou a suspensão de entrega da substância, tendo como base uma liminar do STF (Supremo Tribunal Federal) que liberou a entrega das cápsulas a um paciente.
Vejam essa  notÃcia do G1
Fosfoetanolamina ‘não é remédio’, diz USP sobre substância controversa
Obrigada a distribuir composto, universidade estuda denunciar funcionários.
Rumor de que substância cura o câncer é obra de ‘oportunistas’, diz reitoria.

de São Carlos (Foto: Stefhanie Piovezan/G1)
A reitoria da USP emitiu hoje uma carta dirigida a pacientes de câncer que estão requisitando à universidade cápsulas da fosfoetanolamina,anunciada como cura para o câncer pelo professor de quÃmica Gilberto Chierice, aposentado pela universidade. “Essa substância não é remédioâ€, afirma a reitoria, sugerindo que a propaganda da droga como panaceia é obra de “exploradores oportunistasâ€.
O comunicado foi uma reação da universidade à decisão judicial que a obrigou a distribuir o composto para doentes de câncer e familiares persuadidos de que a droga teria algum efeito benéfico.
“A USP não desenvolveu estudos sobre a ação do produto nos seres vivos, muito menos estudos clÃnicos controlados em humanosâ€, afirma o comunicado. “Não há registro e autorização de uso dessa substância pela Anvisa e, portanto, ela não pode ser classificada como medicamento, tanto que não tem bula.â€
A droga vinha sendo inicialmente fornecida de graça por funcionários da USP no campus de São Carlos, mas uma portaria do Instituto de QuÃmica restringiu a distribuição. A partir daÃ, criou-se uma disputa judicial que culminou na liberação da substância pelo Tribunal de Justiça de São Paulo. Pessoas têm formado filas todas as semanas para retirar o produto gratuitamente no campus de São Carlos, contrariando a recomendação de vários oncologistas que se pronunciaram sobre o assunto.
Em entrevista ao G1, o pesquisador da USP Salvador Claro Neto, um dos detentores da patente da substância, afirmou que cada cápsula é produzida por menos de R$ 0,10.
‘Oportunistas’
Mesmo obrigada a distribuir a fosfoetanolamina, a universidade diz que se sentiu no dever de informar o status de pesquisa do composto, por “respeito†aos pacientes.
A universidade também afirma não tem capacidade de produzir a substância na escala com que vem sendo solicitada. A reitoria sugere que a Justiça busque a indústria quÃmica caso queira obrigar uma distribuição da fosfoetanolamina em grande escala. “Não há, pois, nenhuma justificativa para obrigar a USP a produzi-la sem garantia de qualidadeâ€, diz o comunicado.
Briga judicial
A reitoria diz que as decições judiciais serão cumpridas, mas vai brigar para revertê-las. “A USP está verificando o possÃvel envolvimento de docentes ou funcionários na difusão desse tipo de informação incorretaâ€, diz o comunicado. A USP “estuda, ainda, a possibilidade de denunciar, ao Ministério Público, os profissionais que estão se beneficiando do desespero e da fragilidade das famÃlias e dos pacientes.”
Nada disso exclui, porém, que “estudos clÃnicos suplementares possam ser desenvolvidos no âmbito desta Universidade”, encerra o comunicado.
Tribunal de Justiça de São Paulo havia inicialmente suspendido a distribuição da substância, mas voltou atrás após uma liminar que chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF), acatando pedido de uma paciente do Rio de Janeiro que requeria a fosfoetanolamina.
Segundo a sentença do TJ-SP, a substância foi liberada a despeito da incerteza sobre sua eficácia, por uma questão de respeito a liberdades individuais na busca de melhores condições de saúde. “Do ponto de vista jurÃdico há uma real contraposição de princÃpios fundamentais”, escreveu o presidente do tribunal, desembargador José Renato Nalini. Para ele, porém, o “maior risco de perecimento é mesmo o da garantia à saúde.”