
                 A questão legislativa também esteve presente na sessão especial em homenagem aos povos indÃgenas, realizada na tarde da quinta-feira (16) no Plenário do Senado. CrÃticas aos parlamentares, PEC da Demarcação, grupo de trabalho para os Ãndios, além do marco legal da biodiversidade, estiveram entre os temas dos discursos dos lÃderes indÃgenas.
Para o cacique Neguinho Truká, o Congresso Nacional pode contribuir com a pauta indÃgena analisando, por exemplo, o Projeto de Lei (PL) 2057/1991. O texto, conhecido como Estatuto das Sociedades IndÃgenas, está pronto para a votação no Plenário da Câmara, mas não é colocado em pauta. Para o cacique, é preciso “desengavetar†o projeto. Além disso, Neguinho Truká entende como necessária a reestruturação da Fundação Nacional do Ãndio (Funai), com plano de cargos e salários e valorização dos servidores. O cacique também reivindica a criação de subsistemas de saúde e de educação que respeitem as especificidades dos povos indÃgenas.
— Nós não estamos aqui dizendo que Ãndio tem que ter privilégio. Ao contrário, queremos que as pessoas comecem a nos conhecer de fato para saber de que forma podemos utilizar o que é de todo o povo brasileiro, dentro da nossa realidade — afirmou.
A lÃder Sônia Guajajara disse que a audiência de representantes indÃgenas com o vice-presidente da República, Michel Temer, também durante a tarde desta quinta, foi uma conquista importante. Ela se disse feliz por ter entrado no Senado, “apesar da polÃcia lá foraâ€, e pediu a criação de um grupo de trabalho, com a participação de Ãndios, para tratar de pautas em favor dos povos indÃgenas. Sônia ainda lamentou as alterações no marco legal da biodiversidade (PLC 2/2015), que prejudicariam os indÃgenas, e a pouca presença de senadores na sessão.
— Agradeço muitos os senadores que estão aqui, mas lamento muito a ignorância dos ausentes — cobrou Sônia.
Cobra grande
Para o lÃder indÃgena Davi Kupenawa Yanomami, o Congresso é uma espécie de “casa de cobra grandeâ€, que está “engolindo todo mundoâ€. A presença dos indÃgenas no Senado, disse Davi, é uma forma de defesa. Ele acrescentou que as tribos continuam zelando pelo meio ambiente e pediu que os senadores votem contra a PEC 215/2000. A proposta, em análise na Câmara dos Deputados, dá ao Congresso Nacional a legitimidade para tratar da demarcação das terras indÃgenas.
— A PEC 215 é uma cobra grande. Vamos matá-la, antes de ela crescer. Vamos enterrar, para não nascer mais a raiz — pediu Davi.
O lÃder Piracumã Yawlapiti classificou a PEC 215 como “preocupante†e pediu a demarcação imediata de terras indÃgenas. Para o lÃder, a preservação ambiental é necessária e vai beneficiar “todo mundoâ€. Ele ainda lamentou o sucateamento da Funai, pedindo mais atenção do governo com o órgão, e cobrou do Congresso e da Funai mais cuidado com os Guarani do Mato Grosso do Sul.
— Não adianta ficar esquentando cadeira. Precisa andar no meio das terras indÃgenas. Diálogo é mais importante que quebra-quebra – disse Piracumã, que ainda pediu a saÃda do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha.
Contrários
O senador João Capiberibe (PSB-AP), que sugeriu a sessão de homenagem, pediu que o governo se posicione contra a PEC 215 e contra outros projetos que diminuem direitos dos povos indÃgenas. Ele também citou o projeto que trata da mineração em terras indÃgenas (PL 1.610/96), em análise na Câmara dos Deputados. Capiberibe ainda relatou que participou da reunião entre indÃgenas e o vice-presidente, Michel Temer. Segundo o senador, os indÃgenas pediram que Temer interceda junto a Eduardo Cunha para retirar a PEC 215 da pauta da Câmara.
O presidente da Funai, Flávio Chiarelli, pediu que os senadores barrem a PEC da Demarcação, mas disse manter a esperança de que a proposta seja rejeitada ainda na Câmara dos Deputados. O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) também se manifestou contra a PEC. Telmário Mota (PDT-RR) usou um cocar na cabeça para discursar. Ele contou que nasceu em uma comunidade indÃgena e criticou a PEC 215.
O senador Valdir Raupp (PMDB-RO) prometeu olhar a PEC da Demarcação “com cuidadoâ€, para corrigir possÃveis distorções. Raupp, no entanto, também disse acreditar que a proposta não será aprovada na Câmara. O senador Vicentinho Alves (PR-TO) também se disse contrário à PEC 215 e voltou a sugerir a criação da Secretaria Nacional dos Povos IndÃgenas (PLS 173/2011), diretamente vinculada à Presidência da República, como forma de valorizar as demandas dos Ãndios.
— Aqui, os Ãndios podem contar comigo. Serei contra qualquer proposição que diminua os direitos dos indÃgenas — afirmou Vicentinho.
Agência Senado