
              A oferta de Marcos Valério Fernandes de Souza, para fazer delação premiada na Operação Lava Jato, é o fato novo dos últimos dias e pode ter grandes repercussões. Por ter se recusado a contar o que sabia, Valério foi condenado a 37 anos de prisão no Mensalão, enquanto os polÃticos a quem serviu tiveram penas menores, já saÃram da cadeia e até estão obtendo perdão judicial com base no indulto de fim-de-ano. Pivô do Mensalão, Valério poderá fornecer à Lava Jato preciosas informações que ligam personagens e fatos de um e outro esquema de corrupção. Os anos de cadeia devem ter-lhe demonstrado que seus parceiros de jornada não são tão merecedores de sua discrição quanto aos crimes cometidos. DifÃcil prever, no entanto, que benefÃcios poderá receber na pena já consolidada, ao colaborar com as novas apurações.
              A Lava Jato é um verdadeiro patrimônio da sociedade brasileira. A exemplo da Operação Mãos Limpas, da Itália – que investigou 6.059 pessoas, incluindo 872 empresários, 1.978 administradores locais e 438 parlamentares – já desvendou os malfeitos de executivos de estatais, empresários e polÃticos que praticaram a fraude em concorrências e licitações, fizeram maus negócios com o dinheiro público e dele retiraram propinas que tanto serviram para sustentar esquemas eleitorais e partidos polÃticos quanto promover o enriquecimento ilÃcitos daqueles que, um dia, por ocasião da posse, prometeram cumprir as leis e defender o interesse público.
              A italiana Mãos Limpas liquidou os principais partidos italianos e encerrou a carreira de grande numero de polÃticos, inclusive alguns de expressão nacional. Depois dela, a Itália não ficou totalmente livre de mazelas, mas pelo menos nao repetiu as mesmas. O Brasil da Lava Jato, aos poucos, tende a transformar-se num novo paÃs. A grande operação já levou ao cárcere criminosos que jamais se imaginava, um dia, correrem o risco de pagar pelos seus malfeitos. Com certeza, o trabalho ainda tem muito a desvendar e vai fornecer os elementos básicos para o estabelecimento de um novo pacto social e polÃtico.
              Não podemos continuar convivendo com uma democracia onde os partidos e suas expressivas figuras são sustentados pela pilhagem do dinheiro público e pela fraude em certames. Para que a Operação Lava Jato e similares resultem coroadas de êxito, é preciso rechaçar todas as tentativas de enfraquecimento da PolÃcia Federal, do Ministério Público e da Receita Federal, seus executores. Essas instituições têm legislação própria, quadros bem formados e não podem ser, jamais, tolhidos em suas obrigações de ofÃcio. Há que se eliminar a promiscuidade, o aparelhamento e a criminosa fraude. As concorrências devem existir para buscar a execução das obras pelo menor preço; jamais para ensejar a montagem de esquemas criminosos que sustentem agremiações, polÃticos e seus serviçais…
        Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)Â
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