Imagem ilustrativa – web
Entrei procurando por ela.
Como ainda não estava, dirigi-me a uma mesa próxima a um abajur e me acomodei.
Sabe aquela história de chegar a um lugar e ser notada de imediato por todos que ali estão?
Você sabe como é?
Eu não.
Enquanto esperava chamei o garçom e pedi um copo grande com gelo. Muito gelo e água.
Abri o livro da vez e esqueci-me do tempo.
Quando lembrei o que na verdade fora fazer ali meus olhos passearam por todo o salão e retornaram ao livro.
Ao encontrar o ponto final de onde deveria retomar o que tinha interrompido, atentei-me ao que vira durante o passeio:
Conhecidos e belos olhos.
TÃmida desde sempre, a vida inteira tomei cuidado para ser o mais discreta possÃvel. Talvez tenha me acostumado a isso, talvez tenha me condicionado.
Não sei.
Acha que me incomodo?
Eu não.
Já havia visto seus olhos inúmeras vezes. Mas onde?
Quando meus olhos perceberam que haviam esbarrado com os dele voltaram rapidamente ao local do encontro. Lá chegando eles se reencontraram. Junto, um sorriso.
Apesar da timidez, dizer “olá†me é natural.
Quando vi aquele moço dos olhos encantadores sorrindo para mim, sorri também e voltei a minha leitura.
Enquanto lia, não consegui deixar de notar que o moço de longe, ainda me observava.
Olhei novamente.
Sorri outra vez.
Não adiantava, eu o conhecia, tinha certeza que sim, mas não sabia de onde era.
Foi nessa hora, com a cara enfiada no livro, que vi de maneira furtiva uma moça se aproximando dele.
Ela chegou meio tÃmida, falou alguma coisa, sorriu, deu um beijo em seu rosto, tirou uma selfie e foi embora.
Estranhei mais ainda, mas voltei ao meu livro.
Pouco depois o garçom chega perto de mim:
“Com licença, o cavalheiro ali no bar pediu para entregar-lhe.â€
Eu agradeci e, antes de ler, procurei pelo cavalheiro. Quando o encontrei ele acenou e foi embora.
O bilhete dizia assim:
“Seus olhos e sorriso são encantadores.
Quero muito ouvir sobre o que trata esse livro, bebendo um copo de água bem gelada.
Caso você queira me contar, esse é meu número, 88888888.
Abraço, Marcelo.â€
Quando li o nome, me lembrei do moço.
É claro que o conheço.
Ele está em todas as capas de revistas e outdoors. Por isso a moça tirou a selfie, ele é ator de televisão, que deve ter estranhado muito minha indiferença.
Mas o que eu poderia fazer?
De verdade, não o reconheci.
Mas foi legal, isso me fez descobrir que tratar as pessoas com normalidade é algo verdadeiramente encantador.
VÃvian Antunes é cronista do cotidiano, mora em BrasÃlia e ajunta suas letrinhas segunda, quarta e sexta no www.viviantunes.wordpress.com