quinta-feira, 21/11/2024
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ESCREVI O NOME DELA

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escrever                     Dezessete pra dezoito anos, acho que eu não tinha mais do que isso, menino bonito, cabelos pretos encaracolados, cara cheia de cravos e espinhas, dentes encavalados, mas perfeitos (naquela época ainda não se usava esses aparelhos cheio de borrachinhas coloridas, o tal do sorriso com grade ) eu gostava de usar calça xadrez, boca de sino, camisa volta ao mundo, sapato de salto carrapeta. Eu fui o rei das meninas, com meu fuscão 1500, tala larga, escapamento Kadron, volante pouco maior que uma bolacha Maria.

      Nos bailinhos de garagem não podia faltar, cuba libre, ponche, picles, Creedence , Bee Gees e eu.

     Foi num desses que apareceu a Leonarda, uma loirinha do outro mundo, até hoje eu não sei de que galáxia ela surgiu, Dentro de uma calça Lee, tão apertada, que parece que foi embalada à vácuo, uma blusa amarela com os dois botões de cima abertos, coisa de doido, um pitéu.

      A macacada quando viu a mina, ficou de quatro, babando, cada carinha chegava com um galanteio diferente, …..e ai gatinha, quer dividir seu ping pong comigo? ….garota ,você tem a medida certinha do meu abraço …e mais uma porção de baboseiras  típicas dos anos 70.

      Então chegou o degas aqui, devagarinho, como quem não quer nada, conversando macio, sem muito balacobaco, sem dar trela pros invejosos e faturou a moça,.(não repare no traquejo do meu palavreado e nem na minha gíria esdrúxula, é que a gente sai dos anos 70, mas os anos 70 não sai da gente.)

     Enquanto no long play do Marmelade se ouvia The changing of sunlight to moonlight reflections of my life, eu cochichava na orelhinha da gata, hora jogando uma cantada, outra hora tentando acompanhar a música com meu inglês mal acabado.

     Dois dias depois, a gente já estava no maior amasso no muro da casa dela e os coroas só de olho no vitrô e nós dois só se malhando e prometendo amor eterno.

      Depois que ela entrava, eu escrevia com xixi o nome dela no muro, As vezes só conseguia escrever Leo, outras vezes, com mais inspiração, eu escrevia, Leonarda meu amor, te amo e ainda sobrava pra desenhar um coração.

      Nossa paixão com o tempo só foi aumentando, já estávamos pensando em casamento, filhos, casa, troquei meu fuscão por um opalão quatro portas, câmbio em cima, nos bailes de garagem, com The Hollies e os Fholhas, hi-fi, pão de forma com patê de presunto, não deixamos de ir e as escritas no muro era de lei, tinha que ter, a não ser que chovesse.

     Uma noite, quase madrugada, os pais dela (hoje, meu sogro e sogra ) saíram e foram conversar com a gente. Então sem rodeios ele falou…..quando eu era jovem e namorava esse anjo que está aqui ao meu lado, eu bem que gostaria de escrever o nome dela no muro também, porém a gente morava no sítio e não tinha muro, só cerca. O que você faz, não é certo, mas é compreensível.  Escrever com xixi, o nome da namorada no muro é até romântico, é coisa da juventude, uma bonita demonstração de amor, mas seja sincero e fala pra mim,…a caligrafia é da nossa filha, não é?..e era.

                                              valdirfachini53@gmail.com

Em 8 de abril de 2016 17:38, valdir fachini <valdirfachini53@gmail.com> escreveu:

MARIA VAI COM AS OUTRAS

    Se a Fulana dizia que gostava do amarelo, então ela lembrava de milhões de adjetivos pra cor amarela, é uma cor viva, alegre, segundo a filosofia japonesa é a cor da fortuna, a cor que ela mais gostava;

    Se a Sicrana foi pra Bariloche, então é pra la que ela iria, mesmo detestando o frio, sem nunca ter visto neve, a coisa que ela mais gostava era esquiar.

    Estou falando da Godofreda, moça bonita, cheia de sonhos, cabelos loiros, cabeça nas nuvens, tinha lindas pernas, mas não tinha os pés no chão, tinha olhos azuis e miolo mole, nariz arrebitado e minhoca na cabeça, tinha tudo que causava inveja às outras moças da sua idade e ao seu redor, tinha um marido que dava o sangue por ela , mesmo assim não conseguia ser feliz, faltava alguma coisa.

     Um dia, uma amiga (mui amiga) disse que tinha se cansado da monótona vida a dois e tinha se separado do marido, porquê ela não fazia o mesmo? Naquela mesma noite ela comunicou ao Astrogildo a sua decisão.

    Ele quase entrou em óbito, não esperava por isso, mas conhecendo as paranoias da esposa, simplesmente aceitou, achou até que era melhor pra ele, afinal já estava de saco cheio das vontades estapafúrdias.

     Ela foi, dois dias depois voltou, a amiga tinha voltado também.

    Não muito tempo depois, outra amiga, uma lambisgoia pervertida, arrumou um amante, um garotão ainda cheirando o leite das tetas da mãe, Ela não podia ficar pra trás, descolou também um rapazote, que nem sabia fazer amor direito e ainda jogava bolinha de gude no meio da rua.

     Isso também durou pouco, porquê apareceu a Beltrana dizendo que a melhor coisa do mundo era a liberdade, que ela tinha se libertado de tudo, marido,casa, carro, conta no banco, jóias, agora sim ela tinha encontrado a felicidade.

     Não deu outra, Godofreda fez o mesmo, pediu divórcio, abriu mão de tudo de papel passado, até pensão ela não quis.

   E foi ela então em busca de ser feliz, trabalhou de doméstica.. .doméstica, ela era doméstica, sem carteira assinada, só caia em cilada….Dusek…..passou a andar de ônibus, teve que pagar aluguel em um cômodo de fundos,  sem reboque, telhado de brasilit   (um barraco) o importante era ser feliz, mas não foi.

     Ao contrário do ex, que a cada dia estava melhor, esbanjando felicidade.

      Dai,né! ela acordou pra vida e acabou descobrindo a verdade.

    A Beltrana e o Astrogildo armaram uma arapuca e ela caiu igual um patinho….vai na conversa dos outros ,,vai.

                                                              valdirfachini53@gmail.com

  DOMITILA

   A Domitila morreu,mas esse acontecimento não é recente não,já faz muito tempo ,vixe! faz quase meio século,eu era molecote ,tava começando com a siririca,andava com a molecada no meio do mato caçando rolinha com estilingue e eu era o tal com essa arma não errava uma pedrada .

   Foi numa dessas caçadas que eu trombei numa caixa de marimbondos fui ferroado da cabeça aos pés ,nem o pingulim foi poupado, então a mãe me proibiu de sair de casa, fiquei de molho, ela disse que era resguardo e eu achava que isso era só quando tinha nenê.

    E foi numa tarde, não me lembro o dia, o mês, se era primavera ou verão eu não sei , mas isso não vem ao caso, era de tarde ,isso eu sei, ela passou em frente de casa, com seus passos tranquilos, pensamentos absortos como se estivesse caminhando no paraíso, me deu uma olhada que foi o suficiente pra balançar meu coração pré adolescente carente de carinho.

    Ai eu fiquei te acompanhando com o olhar até sumir lá no alto do morro. Na outra tarde passou de novo, na mesma malemolência, então eu fui atras dela, fui puxando conversa, na minha simplicidade de garoto contei toda minha vida, se bem que com minha tenra idade não tinha muito que contar. Ela não me disse seu nome, então a chamei de Domitila,  a professora tinha me ensinado que essa mulher foi amante de D.Pedro e marquesa de Santos, eu nem imaginava o que seria marquesa, mas sempre achei esse nome bonito, então eu passei a chama-la assim.

   Então eu comecei a gostar muito dela, sentia saudade se ficasse um dia sem vê-la, ficava triste porquê ela nunca ia na igreja comigo nos domingos. Ela também gostava muito de mim, eu via nos seus olhos a alegria de me ver. Quando eu sentava na relva,  ela se deitava e punha a cabeça no meu colo e eu ficava te acariciando por muito tempo, sentia o tum-tum compassado do seu coração e eu contando minhas aventuras, inventava histórias porquê meu repertório já tinha acabado .

     Mas um dia, que triste dia, ela estava passeando no jardim do outro lado da rodovia e eu na minha inocência ou emoção não sei, gritei ……Domitiiiiiiila!…ela escutou e veio correndo, mas na sua inocência ou emoção não sei, tentou atravessar a pista sem prestar atenção, veio um carro a toda(naquele tempo, carro já corria)e catapimba, jogou ela longe, eu corri ao seu socorro mas não adiantava mais e ali naquele asfalto quente e negro, tão negro quanto a morte eu escutei sua última palavra,antes do derradeiro suspiro ela me disse ….béééé.                        

                                                 A tampa da caneta.

                              Ontem eu cheguei em casa, meio assim, mais pra lá do que pra cá, confesso que tinha tomado alguns rabo de galos no boteco do Troca letra (o Troca letra não é japonês não, mas ele troca o ele pelo erre ao contrario do Cebolinha), então eu estava lá com uns camaradas jogando conversa fora, falando das gostosas do bairro, (ninguém falou da minha mulher, não sei se foi por respeito ou se a gostosura dela há muito tempo já se foi), conversa vai e vem, o Troca põe mais um copo no balcão, eu tomo e o papo continua.

Então o assunto foi ficando repetitivo, sem pé e sem cabeça, Chitãozinho e Xororó já estavam cantando em alemão, ai eu resolvi e fui embora.

Quando abri o portão, (que não foi fácil), notei alguma coisa estranha. As luzes estavam apagadas, como não era de costume, silêncio total, será que deu um piripaque na minha mulher?

Abri a porta, acendi a luz, tava tudo arrumado, a sala tava um brinco, só meu violão que estava fora da capa, mas acho que fui eu mesmo que deixei, na mesa de centro um bilhete que com muito custo consegui ler - “decidi, estou te deixando, pode ser que um dia eu volte, se você voltar a ser o que era antes, quando seus amigos forem menos importantes que eu, quando as gostosas forem menos gostosas que eu, quando o seu rabo de galo não for melhor que o meu, a decisão é sua”.

Na cozinha não tinha nada fora do lugar, nem um copo na pia, na geladeira um bifão de contra filé temperado do jeito que só ela sabe fazer e na mesa outro bilhete - “se não aprender a cozinhar vai comer miojo o resto da vida, se vira”.

O quintal estava uma beleza, nem uma folha ao vento, nem uma roupa no varal, só uma brisa leve me dizendo - “bem feito, seu tonto, agora vê se dá os seus pulos”.

À hora de entrar no quarto é que foi mais difícil, não sabia se entrava ou se ia pra sala me descabelar, criei coragem, abri a porta e entrei, também estava tudo em seu lugar, menos as suas bijuterias, (eu nunca fui capaz de dar uma jóia de valor pra ela), seus perfumes, (isso ela tem bastante) e as roupas dela, ela levou quase todas, as que ficaram deve ser porque não couberam na mala ou pra me dar um pouco de esperança.

Na cama outro bilhete que eu me recusei a ler, amassei, mas não joguei, só joguei meu corpo desiludido na cama e ali fiquei até o amanhecer me agarrando às últimas coisas que ela deixou; As lembranças, um bilhete não lido e a tampa da caneta.

                valdirfachini53@gmail.com

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