É o que mostra a experiência de seu Édemo Correia, 74 anos, chamado de “Doutor Pequiâ€, por ter investido na produção dessa fruta tÃpica do Cerrado
              Os pequizeiros eram abundantes na região Xingu Araguaia. No inÃcio da colonização não existia pequi para dar e vender, apenas para dar, pois grande era a sua quantidade na natureza. Mas com a derrubada das matas e conversão das pastagens em lavouras, os pés foram diminuindo…. e a população local e o consumo, aumentando.
Paulista da Cafelândia, seu Édemo chegou a Canarana-MT em 1980 e em 1989 comprou o sÃtio Ãgua Limpa, de 90 hectares, na região do Garapú, a 55 km de Canarana. Começou plantando arroz, mas estava à procura da cultura ideal para o tamanho de sua propriedade, em uma região de grandes fazendas onde predomina a monocultura da soja.
Em certa feita, no mercado municipal de São Paulo capital, seu Édemo teve uma ideia: “Eu pensei: se trazer um caminhão de pequi aqui vende tudoâ€, contou. Casado com Vilma Reche Correa, seu Édemo viajou com ela para o Canadá em 1994, que foi fazer doutorado. As baixas temperaturas naquele paÃs do Hemisfério Norte limitam a variedade de frutas. “No Canadá, eu percebi a riqueza de frutas que nós temos no Brasilâ€, disse. Juntando o tico com o teco, do Canadá seu Édemo ligou para um dos filhos: “Quando eu voltar aà em Canarana nós vamos plantar pequiâ€, avisou.
Correa tinha se impressionado com o tamanho dos pequis da região e a generosidade da polpa. De volta ao Brasil, em 1995 fez um tour de centenas de quilômetros pela região Xingu Araguaia em busca de variedades de pequi. Hoje ele tem mais de 25 espécies plantadas em sua propriedade.
Naquele mesmo ano, plantou dois mil pés. Hoje ele já tem seis mil pés produzindo. Outros mil e quinhentos começarão a produzir em 2015. Até 2016, seu Édemo quer chegar a 10 mil pés plantados, que ocuparão uma área de cerca de 35 hectares. O pequi da região começa a produzir precocemente, com a primeira colheita entre 3 e 5 anos depois do plantio.
No começo, seu Édemo vendia pequi em uma banca de Canarana. Hoje, vende para várias cidades, capitais, redes de supermercados e de restaurantes, e não tem o que chegue. Sua produção em 2013 foi de 50 toneladas. A do ano passado ainda está sendo calculada.
A produção do pequi vai de outubro a dezembro. Mas para manter a fidelidade dos clientes, Correa estoca a produção em câmaras frias e entrega o produto nos 12 meses do ano. “É, eu não consegui levar um caminhão cheio de pequi para São Paulo, porque senão iria faltar para o restante do anoâ€, explicou.
A empresa da famÃlia Correa, chamada de Cerradomania, vende o caroço com a polpa (R$ 20,00 o kg), ou só a polpa chamada de filé (R$ 30,00 0 kg). A metade é lucro e a metade vai para despesa. Tudo vai embalado a vácuo e o beneficiamento possui os registros que a lei pede.
SER SUSTENTÃVEL
Se o desejo de vender um caminhão de pequi em São Paulo não aconteceu, o sonho que o seu Édemo tem hoje é o de tornar uma propriedade pequena sustentável. Por isso, além do pequi, ele está aumentando a variedade de frutas.
Em seu viveiro particular, produz mudas de pequi, murici, baru, cagaita, guavira, açaÃ, mangaba, araticum e outras. Produz para plantar em sua propriedade e para vender. Já chegou a vender 30 mil mudas de pequi em um ano.
Hoje,  além do pequi, Correa tem 2 mil pés de murici plantados e já produzindo (utilizado para sucos e outros); 200 pés de cagaita (para sucos, bolos…), a metade já produzindo; e 50 pés de baru (castanha utilizada em vários produtos), 20 deles já produzindo.
O mais interessante é que os pés das árvores das demais frutas do Cerrado estão plantadas no meio do pequizeiro. Além disso, seu Édemo cria 78 cabeças de gado em 60 hectares, a metade com pequi em cima. O gado ajuda a limpar o mato e não come o pequi.
“Não adianta contratar um monte de funcionários dois meses por ano para colher pequi e depois mandar todo mundo embora. A propriedade tem que produzir o ano inteiro e por isso estamos variando as frutasâ€, explicou. Com o seu Édemo, hoje trabalham seis pessoas no sitio Ãgua Limpa.
Todo o conhecimento que tem ele repassa para quem se interessar em plantar pequi. Todo o pequi que tiver, desde que bem processado, tem mercado. E assim está mostrando para quem quiser ver, uma propriedade pequena que é economicamente sustentável produzindo basicamente frutas do Cerrado.
O “DOUTOR PEQUIâ€
Correa não se satisfez apenas em plantar e vender pequi. Ele criou muitas receitas. Vamos lá para algumas delas: risoto com pequi, estrogonofe com pequi, pão com pequi, pudim de pequi, suco de pequi, salgadinho de pequi, pequi ao leite, macarrão com pequi, pequi cozido, pequi frito, pequi assado, óleo de pequi, farinha de pequi, conserva de pequi… e dá para seguir até cansar de escrever.
Em 2008, seu Édemo foi convidado pelo Senar para fazer uma apresentação da culinária de pequi em Cuiabá. Um ano depois, ministrou uma oficina de cozinha para pratos de pequi na Casa da Criança, em Canarana, organizado pelo ISA.
Procurando sempre inovar, ele mesmo criou uma máquina despolpadora de pequi e uma máquina que produz farinha da polpa. Os projetos dessas máquinas foram adquiridos por uma empresa do Estado de São Paulo, que em troca cedeu 50% do valor de uma máquina que extrai óleo de pequi, tanto o medicinal e para cosméticos (que fica na polpa), quanto o culinário (que fica no carroço).
Em certa visita a sua propriedade, servidores da Embrapa, ao detectarem a variedade de espécies de pequi ali plantadas, 25 ao todo, se admiraram. Nem seu Édemo sabia que tinha tantas. Por isso eles começaram a chamá-lo de “Doutor Pequiâ€.
O “Doutor Pequi†explica as diferenças da fruta. “Cada região tem um pequi diferente e um modo de produzir e consumir diferente. O pequi da nossa região é mais grande e carnudo. O pequi de Goiás é menor, mas tem mais óleo e um cheiro mais intensoâ€.
(Texto e fotos – Rafael Govari – ISA)
Imagens reprodução web