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O agronegócio e o próximo governo

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Talvez o menor interesse dos estrategistas das campanhas reflita a pouca intimidade dos eleitores urbanos com a agricultura, assunto mais distante de suas preocupações do que segurança, educação, emprego e mobilidade. Talvez porque a maioria não tem a dimensão do papel crucial do agronegócio em nosso cotidiano e, de forma mais ampla, na vida do país, principalmente a partir dos anos de 1970 até os dias atuais.

As mudanças se deram pelos caminhos tortuosos da total falta de logística, desbravados por famílias rumo ao Centro-Oeste e, depois, a novas fronteiras no Norte do país. Pela competência mundialmente reconhecida da pesquisa agrícola brasileira. Por decididos investimentos da iniciativa privada em inovações tecnológicas. Assim se fez a revolução silenciosa que transformou a face do Brasil rural e, mais do que isso, se tornou sua âncora econômica.

Quase incólume às crises, entre 1992 e 2011 o agronegócio registrou vigoroso crescimento de 574%; entre 1995 e 2000, o superávit comercial foi expressivo mesmo quando o conjunto dos demais setores foi deficitário. No ano passado, o conjunto do PIB nacional cresceu apenas 2,3%; embora tímido, tal resultado só foi possível graças à participação da agropecuária: enquanto o setor de serviços subiu 2% e a indústria apenas 1,3%, a agropecuária alavancou 7% – uma escala em ritmo chinês.

Não se trata de um “milagre brasileiro” – o nome do jogo é produtividade. Estudo do Departamento da Agricultura dos Estados Unidos (Usda), com 156 países, apontou que, entre 2000 e 2010, a taxa média de produtividade agrícola cresceu apenas 1,84%; já no Brasil avançou expressivos 4%. Por alcançar marcas como esta, a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) aponta o agronegócio brasileiro como aquele a reunir maior competitividade para garantir a segurança alimentar de um planeta com 9,3 bilhões de habitantes no ano de 2050. Na projeção da FAO, a oferta mundial precisará crescer 70%; desse volume, mais da metade, cerca de 40%, deverão ser colhidos nas lavouras do Brasil.

O peso desse desafio justifica incluir a produção de alimentos como um dos programas cruciais do governo que o país elegerá neste domingo. Para tanto, Dilma Rousseff ou Aécio Neves terá à disposição um valioso documento como ponto de partida. Elaborado por especialistas de diferentes áreas, sob coordenação do ex-ministro Roberto Rodrigues, pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), o estudo Agronegócio Brasileiro 2013-2022 apresenta cinco pilares: Desenvolvimento Sustentável, Competitividade, Orientação a Mercados, Segurança Jurídica e Governança Institucional.

Destaque-se trecho do capítulo que trata da Competitividade: “Países concorrentes investem pesadamente nas ciências de fronteira, como Biotecnologia, Nanotecnologia e Química. No Brasil, porém, a falta de critérios no atual sistema que regulamenta a Defesa Vegetal na proteção agropecuária – sob responsabilidade dos ministérios da Agricultura e Pecuária, Saúde e do Meio Ambiente -Ú desestimula os investimentos.”

De fato, o atual marco regulatório inadequado à competitividade exigida resulta em elevados prejuízos trazidos por novas pragas: segundo a Abrapa, associação dos produtores de algodão, e a Aprosoja, dos sojicultores, na última safra as perdas somaram R$ 3 bilhões; os danos também se alastram em culturas de frutas e hortaliças. A correção nesse rumo oferece um horizonte às empresas que investem elevados recursos em pesquisa e inovações. Mas, sobretudo, aos agricultores que lideram a trajetória do país rumo à superação dos desafios na produção de alimentos, fibras e fontes de energias vegetais e confirmam, na sua lida diária, que o crescimento sustentado passa, necessariamente, pelas lavouras do Brasil afora.

Eduardo Daher – Economista pós-graduado em administração de empresas pela FGV-SP, diretor-executivo da Andef e diretor da Abag. Fonte: Diário do Comércio / imagens reprodução web

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