Você sempre foi assim?

    Imagem divulgação

         Rótulo, papelzinho que é colocado na embalagem de um produto para contar aos consumidores em potencial quais ingredientes foram usados para fabricá-lo.

O rótulo informa o que foi usado para que enfim existisse o que há dentro da embalagem.

                     Quando o produto passa por qualquer alteração, ele também é modificado para que todos fiquem sabendo quais mudanças ocorrerem dentro do pote.

Detalhe interessante é que tudo, tudo que há dentro é dito fora.

Não foi sem surpresa que ouvi dia desses a seguinte pergunta:

“Você sempre foi assim?”

                Sabe quando você fica paralisada sem saber o que responder e passam pela sua cabeça mil e uma respostas que caberiam para a ocasião?  E, ao final dos intermináveis e produtivos cinco segundos, a resposta que dá é a mais rasa possível? Pois foi exatamente isso que fiz.

“Claro! Desde que nasci sempre fui assim.”

Respondi e dei um jeito de levar meu assombro para outra extremidade.

Nem perguntei qual era o “assim” a que ela se referia.

Somos, fomos e seremos tantos ao longo da história de nossas vidas e vem uma Criatura, sem a menor cerimônia, pega um rótulo, sabe-se lá onde, e gruda na minha testa: “Você sempre foi assim.”

Não, mocinha, não mesmo!

Eu nem sempre fui assim.

Devia ter perguntado!

Devia ter perguntando a qual “assim” ela se referia!

                  Será que quando disse “assim” se referia ao meu riso frouxo? Ou será que falava dos meus cabelos cuidadosamente escovados e penteados pelo vento? Quem sabe se referia a minha mania incorrigível de falar com desconhecidos ou da capacidade particular de ficar extremamente irritada e mal humorada por motivos banais?

Não sei.

Eu devia ter perguntado a qual deles ela se referia.

Mas também, apesar da curiosidade, não me importo.

Afinal, eu nem sempre fui assim.

Claro que não!

Não tenho como descrever como fui.

Por quê?

Porque já foi, já fui, não sou mais.

Não sei te dizer se sou sempre “assim”.

Como saber?

                  São tantas coisas que chegam e se vão. São tantas variáveis, tantos hormônios. Como saber se sou sempre “assim”?

Falar do futuro então, completamente sem possibilidades.

                 O rótulo do foi, é ou será sempre, não tem como existir, Criaturinha perguntadora.

Estou em construção.

Não cabe rótulo aqui no meu peito.

Não hoje.

Não hoje, nem nunca.

                Vivian Antunes é cronista do cotidiano, mora em Brasília e ajunta suas letrinhas toda segunda, quarta e sexta no

www.viviantunes.wordpress.com